Por que as mulheres precisam estar na política

Por que as mulheres precisam estar na política

Mauren Xavier

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Você pode até pensar que o título deveria terminar com uma interrogação. Como se fosse necessário dar uma justificativa à essa frase. Argumentar sobre as razões que tornam necessária a presença das mulheres nos cargos políticos. Mas não. O tom deste breve texto, neste dia 8 de janeiro de 2024, não será de justificação, mas de afirmação. Acompanhando como jornalista e como mulher o noticiário político, a temática “mulheres na política” se tornou cada vez mais urgente e valiosa. Seria trabalhar em causa própria? Acho que a provocação é válida. Mas não é essa a discussão que quero trazer aqui.

Fala-se muito sobre empatia. Pois bem, numa sociedade em que falar sobre o “trabalho invisível” da mulher, como arrumar a casa ou organizar as compras do “súper”, é tão difícil porque muitos não entendem ou acham que isso não existe, como discutir outros assuntos tão relevantes, como a criação de vagas em creches perto de casa (o que já é um extra)? Como discutir projetos de combate à violência contra a mulher de forma sólida?

A relevância desse e de outros vários assuntos é imensurável na sociedade brasileira. É dar condições para que uma mãe, muitas vezes solo, possa ter a possibilidade de deixar o seu filho em segurança enquanto trabalha ou estuda.

Na política há muitas urgências e os chamados “temas das mulheres” nem sempre a recebem. Recordo do projeto de uma ex-deputada pela criação de salas de amamentação que demorou sete anos para ser votado na Assembleia Legislativa. Afinal, apenas quem é mãe ou conhece uma mãe trabalhadora sabe a ajuda que é ter um espaço desse. Ajuda acho que não é o termo correto. É dignidade.

Chega a ser, na minha humilde opinião, no mínimo, irônico que em um país onde as mulheres são maioria em quantidade (também no eleitorado) estejamos tão longe dos locais efetivos de decisão. Dados do ano passado mostram que estamos em 15% dos cargos eletivos do Brasil. Em 2020, dos 497 municípios gaúchos, elas chegaram ao comando de 38 cidades. Das 55 vagas na Assembleia do RS, as mulheres ocupam 11. Fato é que quanto maior for essa presença, mais a sociedade estará representada. Mais os seus problemas reais serão discutidos. Mais fácil será enfrentar a violência absurda de gênero. Mais fácil será fazer frente aos feminicídios, que, além de tirar a vida de mulheres, deixam crianças órfãs e famílias arruinadas. Mais fácil será pensar no envelhecimento da população. Ou pensar na acessibilidade, no desenvolvimento urbano... São tantos assuntos. E, antes que alguém diga que isso são problemas de mulher, digo que está equivocado, porque são problemas da sociedade. Assim, nos escutem.

Concluindo, parabéns a todas as mulheres, que, mesmo não tendo nenhum “cargo político” e mesmo com tantas dificuldades, fazem diariamente política por meio das suas vozes.


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