Por que não vacinar as crianças?

Por que não vacinar as crianças?

Por Dr. Guilherme Guaragna Filho*

Dr. Guilherme Guaragna Filho

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A partir da conhecida ‘‘segunda revolução industrial’’ no final do século XIX até hoje, a humanidade presenciou um aumento significativo na sua expectativa de vida. Esse fenômeno ocorreu principalmente devido a quatro grandes mudanças: saneamento básico, acesso a alimentação de qualidade, descoberta dos antibióticos e advento da vacinação. Esta última, a mais espetacular de todas, pois, pela primeira vez de forma clara, estávamos nos antecipando à doença, combatendo-a antes de ela chegar. Graças a isso, todos aqueles que hoje têm menos de 45 anos nasceram em um mundo sem varíola, uma doença grave que acometia as mais diversas idades. Nesse ínterim, a pediatria, especialmente nos últimos cinquenta anos, esteve na vanguarda do uso das imunizações como ferramenta indispensável na busca por uma infância saudável e especialmente na redução da mortalidade infantil, índice nevrálgico na avaliação do desenvolvimento de uma nação.

Tive o privilégio de vivenciar, na minha infância e início da adolescência, os esforços do nosso Programa Nacional de Imunizações (PNI) para erradicar de nosso meio doenças como sarampo e poliomielite. As campanhas eram tão ostensivas em conseguir atingir toda população pediátrica, que me lembro de receber uma dose de reforço da Sabin na saída de um grande supermercado de Porto Alegre. Que coisa espetacular! Foi um sucesso absoluto! Não há registro de poliomielite no Brasil desde o século passado e o sarampo foi reduzido a pequenos surtos isolados e ocasionais, especialmente nos últimos anos. Mas por que o sarampo não tem o mesmo destino da paralisia infantil? Entre outros motivos, porque a busca por vacinação começou a falhar. Muito devido à desinformação, notadamente depois da veiculação de dados falaciosos de possíveis efeitos adversos da vacina. Então instalou-se o movimento antivacina, sendo as crianças seu principal alvo.

Agora, quando atravessamos o momento mais sombrio do século, depois de um ano de 2020 mergulhados na incerteza e na impotência, surge a solução para a pandemia: vacinas contra Covid-19. E o movimento antivacina ganha fôlego. Anedoticamente no começo, envolvendo chips e répteis, mas sem poder crescer muito, tendo em vista o impacto dessa medida na população adulta. Então chega a vez do público infantil e o movimento vem com força total com bandeiras como ‘‘exposição desnecessária’’, ‘‘o vírus é fraco nas crianças’’. Devaneios e inseguranças infundados. Nossas filhas e filhos estão expostos, são o elo mais frágil no combate à pandemia, que não chegará ao seu tão desejado fim se não olharmos para as crianças. Quando os adultos de hoje estiverem no crepúsculo de suas existências e precisarem de cuidados, caberá a elas essa tarefa. Sendo assim, que exemplo estamos dando quando mais precisam de nós?

Endocrinologista Pediátrico*


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