Porto Alegre e as águas que ensinam

Porto Alegre e as águas que ensinam

Porto Alegre: A Necessidade de Aprender com a História e Proteger Nossos Recursos Naturais

Sofia Cavedon

publicidade

Só não aprende quem se nega ou ignora propositalmente, pois atrapalha seus negócios. Somos privilegiados por nosso manancial e pelo delta exuberante e abundante ao lado do qual nos instalamos. É bem verdade que aterramos e contaminamos esse manancial. A enchente de 1941 nos obrigou a nos defender daquele que originariamente representa nosso provimento de água, produção de alimento e saúde, lazer e navegação.

Só na redemocratização do país é que em Porto Alegre o planejamento urbano envolve sua população e evidencia as demandas represadas de moradia, saneamento, políticas de educação, saúde, assistência e infraestrutura urbana. Foram anos de participação popular intensa e, resultado dela, grandes investimentos em saneamento.

Nosso Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) foi, e é, o principal instrumento da importante marca de mais de 80% de capacidade instalada de separação absoluta do esgoto cloacal do pluvial e do percentual de 60% de tratamento de esgotos. Processo virtuoso que nos dois últimos governos têm sofrido desaceleração proposital por redução de pessoal, retirada de autonomia, renúncia de investimentos, terceirizações de serviços, preparação e gastos com vista à privatização. Grave e irresponsável com nossa cidade e nossas águas! Tudo denunciado e sendo averiguado pelos órgãos de controle.

O debate sobre o Muro da Mauá, que nos salvou mais uma vez, tende a resumir essa relação equivocada, muitas vezes com nossas águas. O que nos separa do rio e torna o Guaíba e as águas uma ameaça, não é o muro, são as políticas de embelezamento que retiram árvores e colocam cimento, é a sanha privatizadora dos espaços públicos, como agora mais uma vez do Cais do Porto e a Fazenda do Arado, que deixa degradar e autoriza a construir prédios e negócios, em vez de preservar as zonas de amortecimento e incentivar o uso sustentável e inclusivo.

Onde não há muro, como nas Ilhas, a ausência de políticas de saneamento, moradias e atividades econômicas adequadas àquele ambiente como o incentivo ao turismo e aos esportes aquáticos, deixa vulnerável e empobrecida a população. O muro que tem que ser removido é o da ignorância dos alertas da emergência climática e do desrespeito ao patrimônio coletivo de memória, planejamento e cidadania que a capital da democracia já tem em seu DNA.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895