Prevenção quaternária

Prevenção quaternária

A prevenção quaternária emerge como uma camada crucial na estratégia de saúde, questionando o uso excessivo de exames, diagnósticos e tratamentos.

Sílvia Kretzer

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O conceito de prevenção já é um conceito mais facilmente compreensível para a maioria das pessoas. Avaliar e tentar identificar a que riscos esses indivíduos estão expostos, de maneira a implementar medidas que possam evitar doenças ou agravos parece ser sempre uma boa estratégia. A grande questão é que o raciocínio humano nem sempre nos leva às melhores tomadas de decisão, porque é próprio da natureza humana tentar encontrar explicações e relações de causalidade onde nem sempre o que nos parece lógico é o que de fato é. Por isso, mesmo quando falamos em prevenção, é essencial que se mantenha em mente algumas perguntas, entre elas, “o que estou tentando evitar?”, “a que custo?”, “isto que estou fazendo vai de fato evitar o que estou objetivando?”, “existe algum risco nesta minha ação?”.

Em busca destas respostas, e por reconhecer que nossas ferramentas, por mais tecnológicas e avançadas que possam ser, sempre contam com alguma limitação e podem trazer algum risco, devemos ser questionadores, pois é a humanização que deve de fato ocorrer no atendimento de saúde.

A prevenção quaternária é uma camada adicional de prevenção que vem para evitar o uso excessivo de exames e recursos diagnósticos desnecessários, o excesso de diagnósticos e o excesso de tratamentos. Esse cuidado não interfere na autonomia do paciente, muito pelo contrário. Ela releva de sobremaneira os valores do paciente com o que há de mais indicado tecnicamente, caso a caso. A precaução tampouco se refere à desprescrição ou à contestação de diagnósticos firmados e significativos para a melhora da qualidade de vida ou para a sobrevida do paciente. Essa medida se refere à técnica e à arte de entender quando um exame realmente se faz necessário ou traz mais risco de resultados falsamente negativos ou positivos e, com isso, risco de procedimentos desnecessários ao paciente. A cautela diz respeito aos tratamentos ineficazes e que podem trazer riscos de efeitos colaterais prescritos sem indicação. A prevenção quaternária trata da necessidade de revisão frequente dos medicamentos em uso pelo paciente e suas interações de modo a simplificar a sua prescrição e evitar efeitos colaterais. A prevenção quaternária trata de fazer discussões importantíssimas com o paciente, que podem parecer desconfortáveis, mas que podem ser definidoras na história daquela pessoa e sua família, como discussões sobre fim de vida.

Em um mundo onde muitos oferecem soluções rápidas e fáceis para todos os problemas, é importante reconhecer que, em saúde, como bom exemplo de muitas questões da vida, os temas são complexos e exigem análises cuidadosas que possam contemplar a ciência, a segurança e os valores do paciente.


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