Roessler e a COP26

Roessler e a COP26

Por José Alberto Wenzel*

Correio do Povo

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Das 301 crônicas publicadas por Henrique Luiz Roessler no Suplemento Rural do Correio do Povo, a última leva a data de 8 de novembro de 1963. Cinquenta e oito anos passados, muito do que escreveu e falou é acentuado nas atuais mesas de conversação de Glasgow e seus desdobramentos. Naquele mesmo novembro de 1963, seis dias após sua última crônica, Roessler viria a falecer. Mês que o vira nascer no dia 16 de 1896. Foi também em novembro, este de 1960, que Henrique Luiz publicou a crônica “Tudo só frases?”, texto que inclui a seguinte citação: “Olhai em roda na querida Pátria. Vedes alguma proteção à natureza digna de nota? Não vedes em compensação em toda parte violação da natureza, destruição das florestas, massacre dos animais e peixes, mau trato da terra e da água?”. E segue o cronista: “E não chegareis então à conclusão de que a maior parte é frase? Isso soa forte, mas precisa ser dito de uma vez. O que adianta se nos enfumacemos reciprocamente com incenso, nos ovacionemos em congressos, nos homenageamos e condecoramos por nada, se festejamos uma medida sem importância, às vezes antes de pô-la em prática. Isto tudo é ilusão, desvio do problema, política de avestruz; é ofuscar o horizonte, tapar o sol com peneira, disfarçar os fatos, o que só contribui para que tudo fique pior. Falatório aqui, gargalhadas ali, esta é a nossa proteção à natureza, e enquanto folgamos em inatividade, a devastação dos nossos recursos naturais continua alegremente”. Como soa atual a escrita daquele 4 de novembro de 61 anos atrás!

Se atualíssimo o que relatou o voluntário porto-alegrense defensor da natureza, que desde menino conhecera e habitara as margens do rio dos Sinos, em São Leopoldo, a urgência no enfrentamento às questões ambientais só se fez avolumar. Mais do que nunca ecoa o chamado de Roessler: “Belíssimas orações e pomposas frases nada nos adiantam. Queremos ver ações, agarrar os resultados com as mãos”. Perdão, Roessler, por ainda não termos atendido ao alerta que reverbera em cada coexistência.

*Geólogo/naturalista


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