Sonhos não vividos

Sonhos não vividos

Por Egui Baldasso*

Correio do Povo

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Quantos sonhos vivem no coração de uma jovem de 20 anos? Quantos planos sequer dormem porque inundam as 24 horas dos dias da cabeça de alguém que imagina uma vida toda pela frente? Lugares que quer conhecer, a carreira que um dia terá. Sonha com um casamento e uma família? Quer filhos, um carro em especial, morar naquela cidade? Quer driblar o destino traçado e cursar uma faculdade? Sonha em ser dona de um negócio ou do próprio nariz?

E quantos sonhos são enterrados junto com uma jovem que parte tão cedo? Quem irá viver esses sonhos que faziam dois olhos brilharem toda manhã, saindo de casa para um trabalho que começava a rabiscar as primeiras realizações de um caminho com outras tantas?

Todas essas perguntas terão como resposta o silêncio. Na voz calada de quem parte, na revolta dolorida dos que ficam. Na devastação da família. Dos próprios sonhos, que já entenderam que ninguém os viverá. A morte da Cristiane da Costa dos Santos tira nossa paz, ameaça as crenças de cada um. Faz quase nos fazer desistir do ser humano. Nos faz questionar o que estamos fazendo aqui. Se não conseguimos proteger uma jovem de 20 anos, se não demos a ela o mínimo direito de viver os seus sonhos, então de que adianta nos julgarmos humanos? Pensar que demos certo?

É tanta covardia a bala que entrou no peito de uma sonhadora, que fica difícil seguir. Um nervosismo num momento de pânico, uma atrapalhação quando as mãos não obedecem ao cérebro assustado. E todos os sonhos acabam. Com a Cristiane, morre um pouco da nossa esperança. Falhamos mais uma vez. Enquanto enterramos ela e seus planos, os monstros seguem sonhando. E matando.

*Jornalista


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