Todo o poder emana do povo

Todo o poder emana do povo

Por Telmo Flor*

Telmo Flor

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Há dias, em reunião com nossos editores, lembrei-me de uma manchete ou título interno que perpetrei em 1989, quando o Brasil se preparava para a primeira eleição direta à Presidência da República. Inspirado pelo bicentenário da Revolução Francesa comemorado naquele ano, com os acordes da Marselhesa onipresentes, resolvi fazer uma boutade tropicalizando o hino francês e adaptei a estrofe imperativa Aux armes, citoyens! (Às armas, cidadãos!) para algo mais adequado às nossas necessidades de então e pespeguei um "Às urnas, cidadãos!" no alto de uma página. Já não recordo sequer se o título chegou a ser publicado, pois tenho uma lembrança bastante forte da minha frustração ao perceber que o editor-chefe à época não ficou nem um pouco impressionado com a minha genialidade.

Agora, porém, voltei a ser tentado a reconduzir meu saudoso título a um lugar de destaque em decorrência do ambiente quase bélico, pelo menos no palavrório das redes, que vivenciamos nesta campanha eleitoral. Afinal, até mesmo alguns apelos às armas, poucos e isolados, é verdade, ou o debate sobre elas contribuíram para amplificar uma polarização nem tão inédita nem tão incomum em uma democracia. A guerra política, porém, alcança níveis alarmantes na Internet e no nível das palavras que podem sim ferir e dividir.

No entanto, também é nas palavras, como nas insculpidas em nossa Constituição, que podemos buscar o caminho para que conduzamos o país a um futuro em que, mesmo não tão unidos como muitos desejamos, haja luz para as escolhas que governantes e parlamentares farão em nosso nome nos próximos anos. "Todo o poder emana do povo", diz a Carta e, assim, estabelece cristalinamente de quem é a legitimidade única para resolver, afinal, quem tem razão na briga política. É o povo, os cidadãos, que decidem. Apelando mais uma vez para as frases fáceis, mas que creio sábias, não custa lembrar: o voto é a arma do cidadão. É o voto, e não o instituto de pesquisa, o líder partidário, o juiz, o delegado, o artista ou o tiozão do Face, que estabelece a verdade e a legitimidade no jogo democrático.

A tentação de usar expressões próximas dos chavões não para por aí. Os gaúchos conhecemos a tirada atribuída ao ex-presidente da Câmara dos Deputados e dirigente do Internacional Ibsen Pinheiro, que costumava dizer que Gre-Nal arruma a casa do vencedor e desarruma a do derrotado. Tangenciando, e muito, a afirmação do deputado, e considerando que a realização de uma eleição é sempre uma vitória da democracia, por restabelecer a vontade do povo, esperamos, pois, que a eleição arrume nossa casa, o Brasil, e desarrume apenas a dos inimigos da democracia.

Sem alguém para me censurar, finalmente, faço, então, o chamamento: “Às urnas, cidadãos!”.

*Diretor de Redação do Correio do Povo

 


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