Tristeza de fim de ano tem nome

Tristeza de fim de ano tem nome

Por: Adriana Viscardi*

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Para muita gente e época de festas de fim de ano é também sinônimo de tristeza e uma certa melancolia. E essa sensação de tristeza ligada ao Natal e Ano-Novo é mais comum do que se imagina. Ela é tão comum que existe até uma terminologia própria que a gente usa holidays blues (tristeza de feriado, em uma tradução livre), um certo estado depressivo ligado a estas datas. É o momento de fechamento de ciclo e reinício de um próximo ciclo. Fazemos um balanço do que aconteceu ao longo do ano e confrontamos as expectativas que a gente tinha, os projetos que a gente fez no início do ano e o que a gente conseguiu. Essa reflexão pode trazer alguma frustração porque dificilmente conseguimos cumprir tudo aquilo que projetamos. Esse é o momento de renovar as esperanças para o próximo ciclo ou desistir de algumas coisas e fazer novos projetos. 

Essa sensação de tristeza que toma conta de muitas pessoas nessa época também pode ser trazida pelas memórias da infância, de outros natais, outros recomeços e até mesmo de arranjos familiares que a gente tinha e que mudaram, de amigos que não encontramos mais. É hora de lidar com a saudade e com os lutos. Ainda que a pessoa não tenha nenhuma crença religiosa ligada a esse período, ela tem muitas memórias afetivas ligadas a esse tempo. E nem sempre essas memórias são felizes. 

Por isso mesmo não há problema em se sentir um pouco triste. Afinal, não podemos patologizar tudo na vida. São questões existenciais que nos afetam e que a gente vai elaborando. É uma pequena tristeza transformadora. A gente reflete sobre algumas questões e a segue adiante. São questões existenciais que fazem parte da vida. É um exercício importante do qual a gente não deve fugir. 

No entanto, é preciso reconhecer que é um período mais difícil para quem tem alguma tendência a estados mais depressivos, melancólicos. Dependendo do contexto que a pessoa vive, da rede de apoio que ela tem, pode ser problemático de fato. Não podemos forçar e cobrar que essa pessoa se encontre com as outras, devemos respeitar, mas também nos ofertar como apoio, não deixar de convidar. E se você perceber que esse período de tristeza está demorando demais para passar ou está mais intenso que o comum, é hora de procurar ajuda de fato. Não podemos deixar pessoas que estão passando por um momento muito difícil solitárias nesse período. Precisamos ser a rede de apoio dessas pessoas, especialmente para aquelas que tiveram alguma perda e/ou estão vivenciando algum luto. 

*Docente do curso de Psicologia da Estácio


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