Um 2023 mais humano

Um 2023 mais humano

Por: Gilberto Jasper*

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Com frequência somos assaltados pela obsessão por mudança. Este sentimento por vezes resulta do arrependimento das escolhas que fizemos com consequências que perduram pelo resto da vida. A sensação também reflete frustração ou contrariedade. Meu pai costumava dizer que o ideal seria viver com intensidade, morrer e depois “voltar à vida” trazendo toda a experiência adquirida na primeira passagem terrena. Logo em seguida, porém, o velho Giba silenciava, olhava para o vazio e disparava:

– É... mas pensando bem que graça teria a vida se a gente já soubesse tudo antecipadamente? Qual seria a emoção de viver se não existissem novidades, surpresas, expectativas?

Criticar é preferência nacional. As redes sociais turbinaram esta tendência de investigar (ou distorcer fatos), julgar e punir, prática responsável por gigantescas injustiças. Difícil é encarar o espelho e fazer uma autocrítica criteriosa. Todo mês de dezembro é comum ouvir comentários sobre balanços e projetos para o ano novo. Na maioria das vezes, esse exercício é mera retórica porque mudar, de verdade, é mais difícil do que parece. A rotina impõe rituais que ficam entranhados dentro de nós, fazendo repetir comportamentos quase reflexos. Mesmo danosos, alguns perduram para sempre.

Geralmente a ocorrência de uma doença grave é ponto de partida para mudanças concretas. Isto faz com que condutas sejam revistas, fruto de advertências graves proferidas por médicos e especialistas. Há poucos meses mudei radicalmente de vida, inclusive nos quesitos sanidade física e mental. São quatro meses de repetições diárias, autovigilância e cuidados, mas os deslizes são parceiros inseparáveis, mas não sofro por isso. Cada dia é um recomeçar, aprendizado por vezes doloroso, mas necessário, didático.

Mudar exige disciplina, esforço, dedicação e resistência. Não é fácil encarar o espelho para admitir erros e escolhas frustradas. Detectar equívocos, porém, é o primeiro passo para o aperfeiçoamento. Amigos são fundamentais nessa mudança de rumo. Um ombro é consolo, estímulo, apoio e fortalecimento. Que 2023 seja, para todos nós, um ano de melhorias, crescimento, prosperidade e consolidação do humanismo. Fora disso é sofrimento resultante da falta de solidariedade.

*Jornalista

 


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