Um empreendedor sem igual

Assim como a cultura da soja, que mudou a história do agronegócio brasileiro, Sheun Ming Ling também veio da China. De família modesta, com pouco estudo, o jovem Ling se transferiu para Santa Rosa, no Noroeste gaúcho, em 1951, de onde contribuiu decisivamente para a elevação da soja a principal produto de exportação do Brasil. <TB>No Estado, fundou a Olvebra, gigante no processamento da oleaginosa na América Latina, e mais tarde um conglomerado internacional com ramificações nos setores de alimentos, plásticos, química, agricultura, navegação e reflorestamento, sob a marca Évora. 

Filantropo, Sheun Ling nos deixou em março, aos 99 anos. Mas seu legado está mais vivo do que nunca nos milhares de empregos gerados, nas centenas de bolsas concedidas a jovens acadêmicos pelo Instituto Ling – criado por ele e por sua esposa Lydia Wong Ling – ou nas inúmeras atividades do centro cultural. Os quatro filhos e nove netos darão continuidade à sua obra.

Herdeiros de uma rica tradição cultural, Ling e Lydia pautaram seus projetos pelos princípios do confucionismo, com ênfase nos valores da educação e da reciprocidade. Um exemplo para o Brasil, onde a filantropia ainda é incipiente e não raramente subestimada.

Ling – com quem compartilhei tantas batalhas em prol do agro, juntamente com meu filho Sérgio Turra, deputado estadual – foi um trabalhador incansável. Um homem simples, transparente e honesto. Profético ao defender uma aproximação maior com a China, tinha sempre em mente o bem-estar coletivo, e não apenas o sucesso individual – que merecidamente obteve. Quanta falta fazem ao Brasil contemporâneo empresários com a visão estratégica e humanitária de Sheun Ming Ling. 

*Ex-ministro da Agricultura e Presidente do Conselho Consultivo da ABPA