Vale do Taquari exige respeito

Vale do Taquari exige respeito

Gilberto Jasper

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Treze famílias vivem em uma escola desativada em Encantado, no Vale do Taquari, região devastada pelas enchentes de setembro. O uso dos banheiros é compartilhado. Divisórias de madeira servem de “parede” para dar um mínimo de privacidade. Cada sala de aula é uma espécie de apartamento, mas a cozinha fora de uso também acolhe seres humanos. Entre os “moradores”, está um cadeirante, além de inúmeras crianças e idosos.

É apenas um caso entre muitos absurdos resultantes da tragédia que causou a morte de 53 pessoas em uma das mais pujantes regiões do Rio Grande do Sul. Enquanto bilhões são destinados às abjetas emendas parlamentares, para condicionar votos e garantir a “governabilidade” no Congresso Nacional, milhares de seres humanos atingidos pelas águas da chuva sofrem sem fim.

Pelo menos três comitivas de Brasília visitaram o Vale do Taquari, cercadas de pompa e circunstância, mas sem a presença do presidente da República. A revoada de aeronaves teve entrevistas coletivas recheadas de promessas de vultosos recursos que, na realidade, são migalhas.

Para aumentar as agruras dos flagelados, a tragédia saiu nas manchetes. Isso obrigou os prefeitos e lideranças regionais a romarias pelos gabinetes da capital federal. De pires na mão, tentam intensificar a liberação de recursos para mitigar os prejuízos materiais e psicológicos da população atingida.

Na economia, a situação não é diferente. Um grupo de empresários foi ao Rio de Janeiro reivindicar junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a liberação de recursos para reativar as atividades produtivas regionais. Inúmeros microempreendedores perderam tudo. Ficaram impossibilitados de manter empregos e gerar tributos que revertem em investimentos em suas comunidades. Infelizmente, poucos recursos chegaram ao destino.

Os 36 municípios que compõem a região do Vale do Taquari enfrentaram e superaram com muito denodo os desafios e consequências da pandemia através do incremento de novas atividades, especialmente o turismo. Uma região que colabora decisivamente para o desenvolvimento do RS não merece o desdém de quem prometeu tanto e entregou tão pouco. A população precisa recuperar empregos, bem-estar e o direito à moradia digna para acolher seus filhos e idosos.


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