Viagem cancelada

Viagem cancelada

Por Luciamem Winck*

Correio do Povo

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São esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do biênio 2024-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência. Nas mulheres, o câncer de mama é o mais incidente, com 74 mil casos novos previstos por ano até 2025. Infelizmente, figurei nesta estatística em 2022, às vésperas de completar 58 anos. Tinha nas mãos uma biópsia com resultado assustador. O medo da morte me assombrou por longos meses. Foram momentos angustiantes desde que recebi o diagnóstico, em 15 de julho de 2022, até a cirurgia, realizada 96 dias depois. Por ser um tumor agressivo, fazer a remoção era a única saída. No processo, conquistei um amigo, o mastologista Frederico Krahe. Um anjo de asas invisíveis que encontrei durante o maior desafio da minha existência.

Na primeira consulta após a cirurgia, fui recebida por ele com um abraço, que veio seguido da frase: “Chegaste no consultório com uma passagem aérea para uma viagem que não queria fazer e eu cancelei o voo. Sou um cancelador de viagens para o andar de cima”. O câncer é um inimigo sorrateiro e silencioso. Em muitas situações, quando diagnosticado, não há tempo para combatê-lo.

Em março de 2022, havia feito os exames de rotina e tudo estava em ordem. Porém, em julho, em consequência de uma brincadeira com meu cãozinho Paçoca, tudo mudou. Ele pulou em cima de mim e acertou meus seios com as patas dianteiras. Surgiram duas bolas. Procurei o mastologista com urgência. Com a requisição para uma ecografia mamária em mãos, foi durante a realização do procedimento que compreendi a gravidade da situação. Veio a biópsia, realizada e entregue no tempo ágil de cinco dias. O tumor estava escondido no duto mamário. Quando o Paçoca me atingiu, “ele” se mostrou. Embora seja uma notícia que ninguém quer receber, ter sido diagnosticada nesse episódio fez toda a diferença. Se o cachorro não tivesse pulado em mim, não descobriria, pois minha ideia era retornar ao médico em maio de 2023. E talvez fosse tarde demais.

Quando recebi o diagnóstico, chorei. Veio um monte de interrogação: “Onde eu vacilei? Por que eu?”. A resposta está justamente nesse momento, porque Deus queria que alguém com força e vontade de viver contasse essa história e ajudasse milhares de outras pessoas. Durante o tratamento, que incluiu quimioterapia, radioterapia e imunoterapia, permaneci em home office. Ficar em casa por quase um ano significava pensar na doença 24 horas. Nesse período, nem a televisão era uma boa companhia, pois a palavra câncer parecia estar presente em todos os noticiários. As armas para combater o câncer não são fáceis. A quimioterapia é um processo agressivo, que me fez valorizar ainda mais a vida. Venci a batalha. Dei a volta por cima. Por isso, apelo para que não vacilem com a saúde. Câncer tem cura. Infelizmente, há quem não receba o diagnóstico a tempo.

*Coordenadora de Produção do Correio do Povo


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