Viver ou gravar

Viver ou gravar

Por Paulo Franquilin*

Paulo Franquilin

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As imagens das comemorações da passagem do Ano-Novo mostraram as pessoas mais preocupadas em registrar o que estava acontecendo, do que viver o momento junto às demais. A tendência de mostrar cada segundo em imagens, registradas nas redes sociais, teve um impulso maior a partir da pandemia, que tornou as pessoas mais isoladas e reclusas ao espaço de suas casas.

O uso dos aparelhos eletrônicos é um costume inserido na sociedade contemporânea desde a mais tenra idade das pessoas, pois até bebês estão grudados às telas, com desenhos e jogos infantis. A dificuldade de interagir com outros seres começa cedo, sendo comum às crianças, isoladas em seus aparelhos, mesmo nos espaços com brinquedos, numa tendência ao sedentarismo e à imobilidade.

Nas escolas, quando voltarem as aulas presenciais a pleno, haverá dificuldade para os professores atraírem a atenção dos alunos após dois anos de aulas virtuais, com os estudantes isolados nos seus lares. Já os adultos, que tiveram oportunidade de viver o trabalho remoto, estão sentindo dificuldades na adaptação ao retorno ao convívio com colegas e ao trabalho presencial.

As redes sociais são um meio de interação com os demais, porém não são uma realidade, são uma ilusão que adotamos no nosso cotidiano, numa enorme preocupação em postar, ter curtidas e comentários. O costume de registrar é uma mania, que se alastra, porque nos locais de convivência coletiva, que reabriram após a vacinação, as pessoas filmam a comida, o palco, o cenário, fazem selfies.

Olhar para o outro e conversar, aproveitar uma boa comida ou bebida, mergulhar no mar, caminhar de mãos dadas, talvez trocar carinho, ouvir os sons da natureza, tornam-se práticas que vamos esquecer. Ainda há tempo de refletir e tentar viver a realidade que nos cerca e conviver com as outras pessoas, deixando os registros digitais num segundo plano em nossas vidas.

*: Jornalista e escritor


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