Voto
Por Antonio Carlos Côrtes*
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Nesse ano votaremos em eleições para presidente e vice da República; Senado; governador e vice; deputado federal e estadual. O art. 14 da Constituição Federal no capítulo IV dos Direitos Políticos ensina que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e no voto direto e secreto, com valor igual para todos e nos termos da lei.
Conversando à cadeira do barbeiro esse me disse que cansou de errar votando em pessoas que provaram não merecer representá-lo. Disse mais: que iria anular o voto, assim como seus amigos. Perguntei se poderia tentar mudar sua opinião. Parou de trabalhar. Cruzou os braços longos. Fixou-me e fez meneio com a vasta cabeleira branca, combinando com jaleco, assentindo, mas observei que ficou meio desconfiado, olhando por cima do grosso óculo de armação de tartaruga. Ao prosseguir o corte disse: - Fala que eu te escuto! Como diz aquele moço na TV.! Riu.
Comecei dizendo que eleições eram conquistas árduas do povo ao longo de anos e que muitos morreram para garantir esse sagrado direito e que cabia a nós não desistir e sim escolher melhor quem elegermos. Argumentei ainda que era o único jeito de sabermos se nossos candidatos eram bons ou não. Concluí afirmando ser o voto instrumento, procuração que outorgávamos ao político eleito para poder nos representar e que a cada eleição renovamos (ou não) o ato cívico de amor à pátria, como diria Caetano Veloso.
Senti que suas tesouradas mudavam de tom a cada palavra pronunciada. Como a pontuar vírgulas e pontos em minhas falas. Após ajeitar o óculo sobre o gordo nariz, argumentou que eu tinha certa razão e que então só iria votar em candidatos que nunca concorreram antes. E que diria aos seus votados, se tivesse oportunidade, que esperava cumprissem os mandatos de forma integral sem sair em meio a esse para se candidatar a outro cargo, pois consideraria traição à outorga por meio de do voto conferido. Pelo que naquele caso não tinha obrigação de renovar a procuração. Aliviado em parte, aduzi que a palavra traição vem do latim traditio, sendo o efeito de trair, infidelidade e deslealdade.
*: Advogado, Escritor e Psicanalista
