Protetores mandam recado para Volkswagen

Protetores mandam recado para Volkswagen

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Em 2013 a Volkswagen do Brasil sentiu o poder de mobilização das redes sociais no Brasil. A empresa lançou a nova campanha publicitária do Gol 2013, criada pela AlmapBBDO, que mostra um carro sendo estacionado com a ajuda de dispositivos tecnológicos. No comercial aparecem diversos amuletos da sorte, entre eles um pé de coelho. Em um dado momento, um gato preto pula no carro. O motorista utiliza o jato de água do limpador de para-brisa para espantar o animal, enquanto um locutor fala “Não dá para contar só com a sorte”.

A MOBILIZAÇÃO

Em poucas horas os protetores e amigos de animais de todo o Brasil se mobilizaram para explicar à empresa e sua agência que a mensagem era inaceitável. Uma mensagem destas - centenas de pessoas disseram - estimula a violência baseada nas supertições contra os animais, em especial aqueles com pelagem preta. Os protestos aconteceram na página da empresa no Facebook, blog, Conar, Reclame aqui e muitos outros canais de manifestação, como os comentários dos grandes veículos que noticiaram o fato.

REAÇÃO DA EMPRESA E DA AGÊNCIA

A VW Brasil respondeu rapidamente e retirou o comercial do ar. Justificou a sua posição dizendo “o comercial de varejo denominado ‘Superstição’ foi retirado do ar em respeito e atendimento às manifestações acerca do tema. Em nenhum momento, no comercial, a Volkswagen quis estimular/sugerir qualquer tipo de desrespeito aos animais". Vitória para os ambientalistas e protetores de animais.
Mas alguns publicitários não ficaram muito contentes e dois executivos da área saíram com as seguintes pérolas:
"Dica: usar gato preto em filme dá azar", disse Marcello Serpa , sócio e diretor-geral de criação da Almap, no Twitter. Já Mario D"Andrea, sócio-diretor da agência Fischer & Friends defendeu o colega: "Acho que as pessoas deviam dedicar o tempo delas nas redes sociais para discutir assuntos mais sérios. E o país está cheio deles."

VOLKSWAGEN E OS AMBIENTALISTAS NO MUNDO

Não é de hoje que a empresa vem sofrendo alguns pênaltis quando o assunto é o meio ambiente. Em 2012 a empresa veiculou um comercial chamado “The Force”, para o lançamento do novo Passat na Europa. Clique abaixo e veja o comercial.

O Greenpeace aproveitou a deixa para organizar um protesto mundial chamado “A Rebelião” e divulgou uma resposta muito criativa em que o vilão Darth Vader pertence a uma organização interplanetária repressora que utiliza o emblema da Volkswagen.

A ideia é mostrar que, apesar da imagem verde que gosta de retratar, a VW está no coração de um grupo de empresas que vão contra novas leis que visam reduzir as emissões de CO2, o uso de petróleo e proteger locais como o Ártico das mudanças climáticas. A campanha veiculou em 14 países, incluíndo China, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França. No site da campanha - www.vwdarkside.com -, mais de meio milhão de pessoas se juntaram à rebelião.

FALTA DE SENSIBILIDADE

Desde que as redes sociais se popularizaram, várias empresas têm sentido em tempo real o impacto que suas mensagens provocam no mercado. A velha intuição dos publicitários e marketeiros não pode mais ser o único parâmetro para definir a aprovação de uma campanha. À intuição é preciso agregar sensibilidade e sintonia com o tempo em que vivemos. O problema não foi só colocar um gato preto no comercial. Faltou também sensibilidade para observar o mercado e perceber que o bem-estar animal é uma preocupação atual e global, que tem feito muitas empresas se ajoelharem. Em 2012, a Arezzo teve que retirar sua coleção, que usava peles de animais, das vitrines devido à péssima recepção do mercado.
Em 2010 a Nestlé foi bombardeada com manifestações mundiais contra o chocolate Kit Kat, que usava óleo de dendê originário de zonas de desmatamento ilegal da Indonésia. Este processo estava acabando com o habitat dos orangotangos, uma espécie em perígo. Dois meses depois do lançamento da campanha, a Nestlé alterou seu processo de fabricação para livrar-se desta chaga ambientalmente criminosa.

A HUMANIDADE ESTÁ EVOLUINDO

O fato é que estamos vivendo uma era bem diferente de duas ou três décadas atrás. A geração que está entrando no mercado de consumo agora foi educada separando lixo, cuidando da água e com preocupações como o fim dos ursos polares, da camada de ozônio e muitas outros temas ligados ao meio ambiente. Preocupações legítimas de quem está herdando um planeta a beira do colapso. E isso é muito bom. Eles estão acordando a turma dos 40, 50, 60 anos, acostumada com a era de ouro do capitalismo selvagem ... e do desperdício.
As redes sociais, por outro lado, estão ensinando para as empresas e seus executivos algumas lições valiosas sobre humildade, sobre ouvir o outro e se preocupar também com o impacto do que você diz e faz.
A Europa está proibindo produtos de beleza testados em animais. Os Estados Unidos estão retirando os primatas dos laboratórios de testes. Novas pesquisas provam que os animais são parte indispensável do equilíbrio do planeta e, portanto, da sobrevivência da nossa espécie.
Estas pesquisas também estão provando que os animais são mais parecidos conosco do que pensávamos. Eles sentem medo, saudades, dor. São capazes de criar laços de amor e fidelidade.
Estão aptos a aprender num nível muito superior ao que sabíamos. Estes seres tão iguais e tão diferentes, têm tanto direito quanto nós de viajarem na grande nave-mãe que chamamos de Terra.

(Texto de Sônia Grisolia – publicitária e ambientalista)


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