Esperança de setembro

Esperança de setembro

Crianças, corram, brinquem e se divirtam porque daqui a alguns anos a missão dessa geração será seguir o trabalho e alterar algumas rotas (...)

Paulo Mendes

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Corram, crianças, meninos e meninas, guris e gurias, jovens, piás e taludos, venham ver a terra em que nasceram e os frutos que dela verteram. Mirem o gado, os cavalos e as ovelhas, os outros bichos que muitas gerações criaram com zelo e aperfeiçoaram a genética e a morfologia. Gado viçoso, cavalos lindos de pelos brilhantes, sangue, raça e procedência. Olhem e prestem muita atenção, notem o trabalho minucioso de melhoramento das raças, das cruzas, a evolução produtiva do gado de leite, do gado de corte, a robustez dos novilhos e novilhas, a beleza estética da moderna ovinocultura, brinquem com os borregos e carneiros. Admirem as aves tradicionais e exóticas, os coelhos gigantes, as cabras, os pequenos animais, as raças miniaturas e os grandes e pesados touros. Apreciem, confiram isso que o velho Rio Grande vem fazendo. Sintam orgulho de seus antepassados e se preparem, porque em breve será a vez de cada um de vocês. 

Olhem aqui para este lado, vejam a inovação dessas fabulosas máquinas agrícolas, os tratores cabinados e equipados com ar-condicionado, totalmente computadorizados, as colheitadeiras de última geração, plantadeiras, os mais variados equipamentos, as novas sementes e insumos, novidades que não param de surgir, tudo para implementar soluções de resultados alarmantes. Até chegar aqui, nossa agricultura precisou crescer, ela que surgiu lá no alvorecer do pago, com os rústicos arados que rasgaram as primeiras coxilhas e várzeas, com as juntas de bois mansos, pelas mãos calejadas dos primeiros colonos. Não foi fácil, ao contrário, foi árduo. Teve suor e sangue, mas hoje vocês enxergam essas lavouras a se perder de vista com soja, trigo, milho, cevada, feijão e tantas outras culturas.

Crianças, corram, brinquem e se divirtam porque daqui a alguns anos a missão dessa geração será seguir o trabalho e alterar algumas rotas, porque precisamos crescer com sustentabilidade. Perdoem-nos, porque perdemos a mão em várias situações, esquecemos de cuidar das matas nativas, preservar os antigos espaços verdes, nossa fauna e flora. Estamos pagando um preço alto por isso, mas precisávamos saldar dívidas, tínhamos que sustentar nossas famílias, evoluir e não nos demos conta, no atropelo da lida, que não podíamos ir com tanta sede e secar as fontes, desviar os rios. Agora plantamos nos seus corações a nossa esperança da cor da bandeira gaúcha que tremula lá no alto do pavilhão. 

Chegou setembro trazendo na garupa uma ponchada de flores silvestres e perfumadas. É chegada a hora, depois desse inverno carrancudo, de acender o fogo de chão, fazer a graxa da costela pingar nas brasas, ouvir o ronco da cordeona nas munhecas de um gaiteiro, arrastar as alpargatas no chão de saibro até ficarem barbudas e olhar com alegria para a frente. Que essa nova primavera nos dê forças para terminarmos nosso trabalho e entregarmos o futuro nas mãos da juventude campeira do Rio Grande. A missão de repontar essa tropa bem cuidada até o destino final. Deposito toda minha fé na capacidade de vocês. Como já disse Mauro Moraes “por isso há de ficar pra cada um que virá, o amor por esses campos que a gente sempre terá, pois tem um fato que creio e sempre rezo pra Deus, quem tem o campo no sangue, passa esse sangue pros seus...” 


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