Perrinho e Lili

Perrinho e Lili

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Já li tanta aventura,

repensei filosofia.

Mas o que me desafia

é o simples da humanidade.

Onde se encontra a verdade?

O que fazemos por aqui?

Muito tempo já perdi.

Agora vou de pão e vino,

como esse amor canino

do Perrinho e da Lili...

           As flores eclodiram, o sol pintou a terra de todos os matrizes e o mundo brilhou para Perrinho e seus donos na granja. O cusquinho aprendeu a correr atrás das preás no banhado, a brincar na terra lavrada e a tomar banho com os outros cães no açude. Ao anoitecer,  todos se reuniam no alpendre da casa, ao lado do galpão onde ficavam as máquinas agrícolas. O doutor Fabrício estava satisfeito com Fugêncio, a granja produzia muito bem. O tempo ajudava e as colheitas eram fartas. Antônio  tornara-se um tratorista hábil e responsável. Dona Aninha fora contratada como cozinheira. As crianças estudavam na escolinha da vila, iam e voltavam  de ônibus escolar.  Com as novidades, Perrinho até esquecera a beira do rio na Capital e as enchentes.

 

         Porém, foi Lili que mexeu de fato com o instinto canino de Perrinho. Quando ela chegou num domingo de manhã, na caminhonete do doutor Fabrício, a granja se encheu de luz e de um perfume estranho que o cusco nunca havia farejado. Lili era de dona Clita, a filha do patrão que morava no Rio de Janeiro. Às vezes visitava o pai e gostava de ver as lavouras.  Perrinho aproveitou a primeira oportunidade e, na porta, chamou Lili, que veio saltitante e cocota, charmosa em seu pelo branco. Que linda! Foi paixão à primeira cheirada. Lili, apesar do recato, parece que também gostou dele, que saltava, arrodeava, fazia graças para chamar a atenção. Lili aproveitou um descuido da dona e correu com o amiguinho pelo gramado do pátio.  Ele a ensinou a assustar as galinhas, a cheirar os sacos de adubo e até a fazer buracos no chão com as patas.

         No final do dia, quando Lili foi embora toda suja de terra vermelha, levando bronca da dona, Perrinho se deitou enrodilhado na varanda e ficou a lembrar daquele bichinho peludo. Ah,  que bom se a vida fosse sempre assim, se pudesse agora estar deitado ao lado daquele montinho peludo e cheiroso, ficar horas admirando a agilidade de Lili e seus pequenos grunhidos cheios de medo e de graça. E sonhou. Era uma linda manhã e corriam em direção ao açude, as crianças brincavam debaixo das macieiras, Antônio pescava, dona Aninha preparava um assado de pernil na cozinha e  Fugêncio pitava um palheiro na porteira. Depois, ele e Lili voltavam para casa, aos pulos, cercados de lindos filhotes. Formavam uma família feliz, como era agora a família de Fugêncio. Abriu os olhos e sorriu, porque a vida é bonita para quem aprende a sonhar...

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