Quando morre um gaiteiro, as cordeonas choram de saudade

Quando morre um gaiteiro, as cordeonas choram de saudade

Luiz Carlos Borges morreu nesta quarta-feira, aos 70 anos, em Porto Alegre

Paulo Mendes

publicidade

Nas comemorações dos 50 anos do Festival da Barranca, na semana da Páscoa, em São Borja, o nome de Luiz Carlos Borges foi bastante lembrado como uma das muitas ausências do evento. Lá estavam figuras que praticamente começaram as suas vidas artísticas pelas mãos de Borges, como Carlos Leandro Cacheira, integrante do antigo Tambo do Bando, e que lembrou do Grupo Horizonte, de Santa Maria. Além disso, Borges sempre estava presente na Barranca, era um daqueles que chamam de “a velha turma”, como Apparício Silva Rillo, Farelo, Tio Manduca e Sérgio Jacaré, que também já nos deixaram e foram 

Em um comentário numa rede social de parceiros músicos, Cachoeira, junto com outros colegas de festivais e shows pelo Rio Grande do Sul e até fora dele, lamentaram ontem a partida um tanto precoce do amigo. Os problemas de saúde de Borges começaram com o primeiro aneurisma, ainda em 2003, depois o mais grave, em 2019, quando ficou 85 dias internado, a maior parte desse período na UTI. Mas, com denodo e dedicação, se recuperou bem em relação à locomoção, da fala e voltou a cantar, e a tocar seu instrumento preferido, a cordeona pianada. 

Artista completo, deixa um legado de 35 discos gravados, cerca de 300 composições e mais de 700 gravações importantes. Ele nasceu a 25 de março de 1953, em Santo Ângelo, e foi sempre uma referência para os jovens músicos que se aventuravam nos festivais nativistas, ele que participou e venceu diversos. Além da música, também foi responsável pela criação do festival Musicanto, de Santa Rosa, no período em que foi secretário de Cultura do município do Noroeste do RS. 

Autor de composições que viraram verdadeiros hinos campeiros, como “Florêncio Guerra”, “Baile de Fronteira”, “Vidro dos Olhos”, “Romance na Tafona”, “Tropa de Osso”, “Tio Euclides”, “Cavalo Crioulo”, “Coração de Gaiteiro”, “Caçapavana”, “O Revórve do Tropeiro”, e tantos outros, Luiz Carlos Borges tinha uma forma própria e cuidadosa de compor e tocar suas músicas. Era do tipo meticuloso em todas as canções. Também mantinha o mesmo cuidado com as amizades que mantinha há décadas no meio regionalista do Estado.

Será mais um artista campeiro, de forte tom regional e popular, cantado pela gente humilde e simples, que fará muita falta dentro do cenário da música gaúcha de qualidade, tanto em relação à musicalidade como em termos de letra. Vai encontrar velhos amigos no Céu. Serão muitas e eternas campereadas ao lado de São Pedro, o velho padroeiro do Rio Grande. Como diz o jornalista Pedro Osório, “Borges foi o melhor exemplo do espírito barranqueiro, solidário, fraterno, sensível e bem-humorado”.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895