Conversa de Carro: mercado para ricos

Conversa de Carro: mercado para ricos

Veículos de custo mais acessível foram trocados por sofisticados que custam muito mais, mas têm demanda

Renato Rossi

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O Jornal the New York Times publicou nesta semana matéria interessante e crítica sobre a indústria automobilística. Foca nas estratégias das grandes marcas no período da pandemia e pós-pandemia. E coloca as montadoras e suas redes de revendedores como responsáveis pela “inflação do automóvel”, dos preços em alta dos veículos no mercado norte-americano e mundo. Nos Estados Unidos, a inflação atingiu ponto máximo em junho de 2022 com 9,2%. É muito para uma economia que por longo tempo teve inflação zero e oferecia juros baixos na compra de veículos.

Mas o alto nível inflacionário combatido na alta das taxas de juros mudou o comportamento do consumidor que abdicou da compra do carro zero quilômetro. Em maio, o índice inflacionário de 4,9% ainda é impedimento à venda de veículos. E o mercado está concentrado na venda dos modelos mais sofisticados e caros. Em 2020, pressionadas pelo fechamento de fábricas e gastos elevados com exigentes padrões sanitários e após pela dramática redução da oferta de semicondutores, as montadoras produziram menos e cobraram mais por unidade produzida.

O mercado retoma seu ritmo normal em 2022, mas as práticas inflacionárias das montadoras prossegue, segundo o The New York Times. A menor produção mais cara não é localizada, é global. E veículos de custo mais acessível foram trocados por modelos sofisticados que custam muito mais, mas têm demanda. No mercado norte-americano, um exemplo da nova estratégia do menos por mais é a picape F150 Raptor, a versão esportiva que custa 110 mil dólares. A Ford lucra em média 15 mil dólares por cada Raptor vendida. Como vendeu 800 mil picapes em 2022, o lucro ultrapassou os 8 bilhões de dólares. E a Raptor tem lista de espera de seis meses à frente.

Os revendedores também participam, segundo o Times, da inflação do mercado. Eles sentiram que prosseguir na rota da sofisticação é um ótimo negócio pela lucratividade por unidade. E nos EUA e mundo as montadoras sinalizam que a sofisticação permanecerá “ligada à tomada”, já que marcas chinesas e europeias colocam no mercado global SUVs cheios de sofisticação no design e tecnologia com preços que superam os 100 mil dólares. E o consumidor paga e nem reclama. Só elogia.


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