De Meo comanda a retomada da Renault

De Meo comanda a retomada da Renault

Grupo investe em alta tecnologia para enfrentar os elétricos da China

Renato Rossi

Executivo busca mudar repercussão da marca francesa

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Na Europa, o CEO do Grupo Renault, o italiano Luca de Meo, é considerado um "anti Musk". Luca é um homem elegante, sóbrio, que não fala o que não deve e detesta o "mundanismo do ego inflado". O que conta para o Grupo Renault não é a imagem elegante de Luca de Meo, mas as decisões precisas e futuristas do executivo que, a partir de 2020, recolocou a Renault como força global do automóvel, principalmente no segmento do carro elétrico. A Renault foi pioneira em 2011, quando apresentou, no Salão do Automóvel de Frankfurt, uma linha completa de carros elétricos. Logo depois, num monumental erro estratégico do então CEO Carlos Ghosn, a Renault abandonou a eletrificação, deixando uma porta do futuro aberta para os Chineses.

Luca de Meo, nascido em Milão, na Itália, em 1967, é diplomado em Administração de Empresas pela Universidade de Comércio Luigi Bocconi. Iniciou carreira no Grupo Renault, passou pela Toyota, Fiat, Volkswagen, Seat e Audi. Foi De Meo quem introduziu a eletrificação na Audi na excelente linha E-Tron, combatida inicialmente pelo conservadorismo lendário da Volkswagen. Na Renault, a visão de futuro de Luca de Meo induziu ao lançamento de carros inovadores, como o novo Renault Scenic elétrico, eleito o carro do ano na Europa em 2024, e o novo Renault 5 elétrico, que recupera o glamour de um ícone francês que, produzido de 1972 a 1985, teve seis milhões de unidades comercializadas.

Sob a liderança de De Meo, a Renault renovou também a linha Dacia, Sandero, e definiu uma estratégia de qualidade superior em veículos altamente competitivos em todos os segmentos de mercado. O recém-lançado Kardian no Brasil é uma síntese desta estratégia global voltada ao belo design e sólida tecnologia, como salienta Luca de Meo: "Há uma nítida vantagem dos chineses neste momento. E carros produzidos na China custam em média 7 mil dólares a menos em relação a similares europeus. Os chineses avançam no mercado global, ajudados pelo Governo que favorece as montadoras com fartos subsídios. Mas tiveram o mérito em desenvolver tecnologias avançadas de produção que permitem uma economia de escala com produtos de alta qualidade. Os incentivos são fundamentais na ampliação do mercado elétrico no mundo. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, os 370 bilhões de dólares alocados na produção de veículos elétricos significam uma enorme vantagem competitiva para as marcas norte-americanas, que já têm linhas completas de carros elétricos. E mesmo uma mudança no Governo não reverte este processo. Sabe-se que Donald Trump é um inimigo do Carro elétrico."

Na Europa, destacou De Meo, as indecisões do Parlamento Europeu e a crítica constante dos Governos aos subsídios reduzem a competitividade do carro elétrico europeu. De 2024 a 2030, a Comissão Europeia definiu 10 novas normas restritivas que geram certezas em relação à produção de carros elétricos. Não decidiram ainda pela permanência ou não dos poluidores motores a combustão. Regras que mudam geram o desinvestimento. As marcas europeias necessitam de previsibilidade e estratégias a longo prazo para que possam dominar toda a cadeia de produção, como fazem os chineses. As montadoras chinesas extraem metais raros, constroem grandes fábricas de baterias, definem parcerias importantes com marcas detentoras de tecnologia e se orgulham pelos incentivos que recebem do Governo.

As montadoras europeias têm que combater os chineses não com protecionismos inúteis, mas com alta tecnologia e uma qualidade superior aos carros chineses. A Renault mostra que isto é possível nos elétricos Scenic, Megane, Renault 5, etc. "Mas temos que ir muito além, porque a eletrificação do automóvel é irreversível", concluiu.


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