Slow

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Guitarrista relembra os tempos sombrios da Ditadura

Chico Izidro

O disco “Lágrimas de Ícaro”, da Slow

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O trio porto-alegrense Slow está divulgando o álbum “Lágrimas de Ícaro”, apresentando composições do início da banda, na década de 1980. Naquele período, a Ditadura Militar instaurada no Brasil desde 1964, obrigava os músicos a passar suas músicas pelo crivo da censura.

Lauro Levandowski (guitarra/baixo e vocal), um dos remanescentes daquela fase, relembrou alguns fatos que fizeram parte da carreira da banda naquela primeira metade de década, quando o Heavy Metal no Rio Grande do Sul dava seus primeiros passos.

Formada em março de 1980, a Slow passou pelos mesmos problemas da maioria dos músicos da época: não tinha equipamentos decentes e tocavam em qualquer lugar. Instrumentos como um violão serrado ao meio que virou uma “guitarra”, uma bateria improvisada com surdos, tarol e pratos e um piano elétrico, era o que se arranjava. Após algumas melhorias, tudo foi ficando mais profissional e as primeiras composições foram criadas, assim como surgiram shows em Porto Alegre.

Lauro Levandowski, um dos remanescentes daquela fase do Slow, recorda de 1983. "Falar deste ano é difícil, até pelo número de coisas que aconteceram. Tivemos o trabalho terrível de em meio à ditadura, registrar cada música, enviar letra e gravação, isso sem falar em reservar um teatro por duas semanas...”, lembra.

O guitarrista cita um caso ocorrido no Teatro do IPE, local que abrigou dezenas de shows na época, e que era carregado de burocracia para ser alugado. "Nós já havíamos tocado em diversos colégios de Porto Alegre e foi muito fácil. Mas no caso da temporada no Teatro do IPE foi outro cenário. O pessoal da administração se surpreendeu quando fomos até lá para alugar o teatro por duas semanas", recorda.

A administração do teatro aceitou, mas na sequência apareceu a burocracia. "Foi terrível para nós, com apenas 18 anos. Todos os integrantes tiveram que se registrar na Ordem dos Músicos do Brasil. Depois gravar as músicas em fita K7 e encaminhar com as letras para a censura federal, levou cerca de dois meses para finalizarem as músicas no Ecad. Uma espera interminável para jovens sedentos por música”, conta. No entanto, uma das músicas, “Demonólotra”, foi barrada pela censura, por ser considerada ofensiva.

Lauro relata ainda a fiscalização do Ecad. "Na época todos tinham pavor do fiscal do Ecad. Se ele "batesse" em algum bar e pedisse carteirinha de músico e se alguém da banda não tivesse, não podia tocar. Em alguns bares que tocamos, o fiscal não apareceu, mas era comum a galera se ferrar", lamenta.

Lauro completa, dizendo que nas apresentações no Teatro do IPE o ECAD não apareceu. "Somente a Brigada Militar, mas a administração estava lá e comunicou a legalidade do evento. A liberdade te permite ser criativo. Como ser criativo se já partir do princípio que algo pode ser censurado? É essa a liberdade que não tínhamos”, finaliza.

Ouça “Lágrimas de Ícaro” no Spotify:
https://open.spotify.com/album/6CPte8PM61xhlTmnYaapSC
Ouça a versão original de “Incubus e Sucubus”, de 1983 e considerada um dos grandes clássicos da banda:
https://soundcloud.com/slow-band-brazil/incubus-e-sucubus1983
Ouça a versão original de “Demonólotra”, censurada em 1983:
https://soundcloud.com/slow-band-brazil/demonolatra1983

Contatos:
Facebook: www.facebook.com/SlowBandBrazil
Soundcloud: www.soundcloud.com/slow-band-brazil
 

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