Amado mas sem empolgar

Amado mas sem empolgar

publicidade



O livro "Capitães da Areia", de Jorge Amado, ganha adaptação para o cinema em um filme homônimo dirigido por Cecília Amado, neta do escritor baiano. Escrita em 1937, esta obra foi traduzida para diversos idiomas e é considerada uma das mais famosas do autor, falecido em 2001. O filme não apenas marca a estreia de Cecilia Amado na direção de um longa-metragem, como dá início às celebrações do centenário de Jorge Amado, que, se vivo fosse, faria 100 anos em 2012. "Capitães da Areia" foi um dos primeiros livros nacionais a ressaltar a problemática dos "menores abandonados", ou, como se diz mais recentemente, "crianças em situação de risco" ou "adolescentes em vulnerabilidade social".

A história acompanha um grupo de meninos que vivem juntos e sobrevivem de furtos pelas ruas de Salvador nos anos 30. O elenco mirim conta com atores novatos, entre os quais se destaca a garota escolhida para interpretar Dora (Ana Graciela Conceição), uma órfã que se une ao grupo e se apaixona pelo líder da gangue, Pedro Bala (Jean Luis Amorim). Uma garota em meio a um bando de garotos dá o toque feminino que não existia no trapiche abandonado onde se abriga o grupo.

Na época do livro, os pequenos ladrões eram vistos como vítimas que se agremiavam para sobreviver, mas tinham a alegria de viver em uma cidade litorânea, de jogar capoeira e de ter a liberdade de andar solto e à margem do sistema da sociedade de então. A malandragem era vista com certo charme e os meninos chamados de "artistas" pela habilidade com que roubavam sem serem percebidos. Hoje o olhar sobre a criminalidade já não é tão complacente e o filme de Cecília teria de ter conseguido captar a atmosfera mágica da Bahia e transpô-la para a tela para conseguir um impacto semelhante. A trilha sonora, assinada por Carlinhos Brown, apesar das percussões e berimbaus, não ajuda muito a conduzir a emoção. Dessa forma, o filme é bem intencionado, mas não chega a empolgar, apesar de apresentar vários elementos culturais de Salvador, como as baianas paramentadas, a religiosidade e a arquitetura da cidade de todos os santos.

Por Adriana Androvandi

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895