Martin Scorcese fez em "A Invenção de Hugo Cabret" um filme que transcende o universo infanto juvenil. Estão presentes os elementos conhecidos dos filmes do gênero mas, com maestria, o diretor, que gosta de olhar para o cinema como a arte que é, se utiliza de um roteiro criativo com referências ao tempo, ao espaço, à arte, às relações humanas e às buscas pessoais. No centro da trama está o jovenzinho Hugo (vivido por Asa Butterfield), com a inquietude em seus olhos arregalados e seu desejo de encontrar segredos guardados pelo pai, morto em um incêndio. A atuação do garoto cresce ao lado do imenso talento de Ben Kingsley e, amparado pelo universo do cinema, transita por uma trama que é maior do que ela mesma. Uma misteriosa fechadura conduz a trama em busca de uma chave, capaz de revelar passado e futuro. Aliás, garoto e chave é algo que se repete em "Tão Forte, e Tão Perto", outro oscarizado de 2012. Em "A Invenção de Hugo Cabret" as cores intensas, mas sem excesso, servem de moldura para a pintura que Scorcese faz de parte fundamental da história do cinema. Aliás, Scorcese já mostrou essa paixão em outros filmes, incluindo documentários específicos sobre a Sétima Arte. Além de Ben Kingsley, dão força à trama nomes como Sacha Baron Cohen (em necessário papel que dá toques de humor à trama), a garota norte-americana Chloë Grace Moretz (com a graça esperada, Emily Mortimer, e do eterno Christopher Lee.
Colocar o jovem Hugo no meio de mecanismos de relógios dão uma ideia da magia estética e da complexidade humana, que já tem surgido no cinema em outras épocas, como paralelos que se complementam. E é ali, no meio dos relógios que compõem sua atividade diária, que o mantém ativo e, ao mesmo tempo, escondido, no meio do trânsito humano das vidas que cruzam, a cada momento, os espaços da estação de trem.
Grande presença no Oscar deste ano, a produção vale ser vista com olhos generosos, sensíveis e solidários com o cinema.
Por Marcos Santuario