Diversão e cultura

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Na linha da História e da política mundial, "Destino de Uma Nação", de Joe Wright, mostra o trabalho deste diretor, que já nos apresentou filmes como "Peter Pan", "Desejo e Reparação", "Orgulho e Preconceito", e está preparando sua nova produção: "Stoner", com Casey Affleck e Tommy Lee Jones. Mas o destaque das pouco mais de duas horas de "Destino de Uma Nação" é a presença intensa do ator Gary Oldman, no papel do ex-primeiro ministro inglês, Winston Churchill. Com personalidade marcante, como a História já o apresentou, Churchill surge na pele de Oldman em um momento fundamental da história inglesa e mundial. Quando Adolph Hitler avança em seu desejo de dominar a Europa, no segundo ano da Segunda Guerra Mundial, Churchill assume o cargo e recebe a responsabilidade de liderar a ofensiva inglesa.

As tramas de poder e as brigas internas dos partidos dão o real colorido da movimentação dramática. O filme vai crescendo em intensidade e possibilitando envolvimento maior a cada momento com o espectador. Fugindo da tentação de recriar batalhas, confrontos bélicos e mortes na tela, o diretor prefere centrar na tensão das discussões políticas e dos conflitos partidários e pessoais que cercam o conflito e avanço nazista. Um acerto que humaniza a trama e aproxima o espectador, em busca daquela tão desejada empatia com a tela.

Quem se interessar pela trama pode ampliar seu olhar assistindo também ao filme "Dunkirk", de Christopher Nolan, cuja trama sintoniza com o roteiro do filme de Wright; e a série Netflix "The Crown", na qual Churchill é vivido pelo ator John Lithgow, fazendo papel central na trama, até o momento em que cede lugar ao seu sucessor na tela.

Gary Oldman já levou o Globo de Ouro e o Prêmio do Sindicato dos Atores de Hollywood, por seu papel de Winston Churchill. Aliás, é grande aposta para o Oscar 2018 também.

Sensação possível, no término de "Destino de Uma Nação", é sentir que, naquele momento, o filme poderia "recomeçar"... e seria ainda melhor. Vale como entretenimento e cultura, além de propiciar reflexão geopolítica, social e humana. Cinema do bom.

 

 

 

 

 

 

britânico Winston Churchill apareceu recentemente em filme que leva o seu nome, sendo interpretado por Brian Cox, e também na
série "The Crown", onde é vivido por John Lithgow. Mas quem arrasa no papel do ex-primeiro ministro inglês é Gary Oldman em
"Destino de uma Nação" (Darkest hour).
A trama mostra Churchill assumindo como primeiro ministro num dos piores momentos, se não o pior, da história da Inglaterra,
em 1940, quando Hitler dominava a Europa no segundo ano da Segunda Guerra Mundial. A França estava caindo nas mãos dos nazistas,
e o veterano político, já com seus 65 anos, precisava tomar decisões fortes e tendo ainda, dentro do parlamento, políticos
favoráveis a um acordo de paz com a Alemanha.
Mas astuto, ele sabia se aceitasse, logo a ilha seria invadida, pois Hitler nunca respeitaria o acordo. O filme ainda faz
uma ponte com o recente "Dunkirk", de Christopher Nolan.
Afinal, uma das primeiras missões de Churchill (Oldman)como governante seria o de tentar retirar os mais de 400 mil soldados
britânicos que estavam espremidos em Dunkirk, tentando fugir dos alemães. É um filme de gabinete, com cenas de interiores,
com muita discussão política, artimanhas, estratégias.
A maquiagem, finalmente consegue ser impressionante, transformando totalmente Gary Oldman em Churchill - recordem a
precariedade de Leonardo DiCaprio como J. Edgar Hoover no filme de Clint Eastwood!!! Aliás, o ator tem uma interpretação de Oscar,
roubando todas as cenas com um vigor excepcional. Mas também há interpretações fantásticas de Kristin Scott Thomas como a esposa
do protagonista e Ben Mendelsohn como o Rei George VI.

 

 

Adaptar histórias reais para o cinema é um exercício que inerentemente cai na romantização dos fatos ou dos personagens. Mas, claro, há diferentes níveis de idealização. O grande trunfo por trás de O Destino de uma Nação é trazer a abordagem de um controverso estadista de forma... controversa. O Winston Churchill de Joe Wright é complexo e falho, o que ajuda na humanização do político. Mas o filme não escapa da armadilha do exagero biográfico. Passado em 1940, o longa acompanha os primeiros dias de Churchill (Gary Oldman) como primeiro-ministro da Grã-Bretanha, cargo que assume quase que de forma acidental. E ele tem que encarar uma pedreira: decidir se aceita os termos de um suspeito acordo de paz com Hitler (para o qual é pressionado), ou se confronta o ditador, o que culmina com a retirada das tropas inglesas na batalha de Dunquerque (tema retratado recentemente por Christopher Nolan nos cinemas). Portanto, esse não é um caso clássico de cinebiografia do tipo que vai do nascimento à morte. Além de mais desafiador, o recorte é uma vantagem que o roteirista Anthony McCarten (o mesmo de A Teoria de Tudo) traz, por proporcionar mais sutilezas do que o compromisso histórico, propriamente. Já nos primeiros minutos, enquanto o parlamento pega fogo, insatisfeito com a condução política por parte do líder imediatamente anterior a Churchill, o protagonista é apresentado como um glutão, que não economiza na gordura do café da manhã, no charuto e na bebida alcoólica - e nem na falta de paciência com a nova secretária, interpretada por Lily James. Uma vez no poder, ele vai precisar driblar o jeito tempestuoso. Diretor de adaptações literárias como Orgulho e Preconceito, Desejo e Reparação e Anna Karenina (além de Peter Pan), Joe Wright traz toda a pompa anterior de sua filmografia para cá. Darkest Hour (no original) é uma produção acima de tudo elegante, cujas imagens são resultado de belíssimos planos, muito bem calculados - sobretudo magistralmente iluminados. O que não quer dizer que se trata de um filme sem alma. A beleza plástica combina com a sobriedade do ambiente político tradicional da Inglaterra. Mérito do diretor de fotografia francês Bruno Delbonnel (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain). Pelo menos metade do impacto de O Destino de uma Nação vem da vigorosa encenação de Gary Oldman como Winston Churchill. Sim, por mais que seja difícil reconhecê-lo por baixo de tanta maquiagem e próteses, é o intérprete do comissário Gordon da trilogia "O Cavaleiro das Trevas" quem está por trás (ou por baixo) da essência do filme. (Aliás, um competente trabalho técnico da equipe de caracterização que de fato conseguiu um resultado convincente, sem distrair a atenção do espectador). A produção é um prato cheio para que Oldman ironize, gagueje, esbraveje. E ele convence, com um registro vigoroso, de pura imersão. (Vale, ainda, uma menção honrosa a Ben Mendelsohn como um polido e impecável Rei George VI). No terço final é que o roteiro tropeça. Ao jogar Churchill (literalmente) para a empatia do cidadão comum, o filme joga a favor da plateia (ao invés de provocá-la, como até então). E a “forçação de barra” resulta não só inverossímil, como beira o ridículo.

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