Doc musical

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Um forma de conhecer algo mais da história cultural e social do Brasil, em determinado momento e contexto, é ´por meio do olhar apresentado na cinebiografia “Jorge Mautner – O Filho do Holocausto”, de Heitor D’Alincourt e Pedro Bial. Com  destaque também para a parte musical,  que vai pontuando e dando agilidade ao roteiro do documentário. Assim, entre notas sonoras criativas, a trama põe em cena um dos ícones da música brasileira e figura fundamental no movimento tropicalista. O compositor, cantor, violinista e escritor Jorge Mautner tem sua história de vida revelada e sua obra revisitada com um olhar generoso e nada “bigbroderiano”, como se poderia esperar por sua direção. Produzido pelo Canal Brasil, o filme tem como ponto de partida o livro homônimo e autobiográfico, lançado no ano de 2006. No longa-metragem, a trajetória marcante do artista é reconstruída por meio de entrevistas e costurada com imagens de arquivo. Mas a poesia e a musicalidade ganham força no delicioso show, montado em estúdio, especialmente preparado para a realização do filme.
Nos momentos de encontro, Mautner recebe dois grandes amigos e parceiros musicais: Caetano Veloso, com quem canta “Todo Errado”, “Tarado” e “Manjar de Reis”; e Gilberto Gil, com quem faz dueto em “Outros Viram”, “Os Pais” e “Rouxinol”. Os depoimentos se seguem, pondo em cena curiosidades que vão revelando o homem e o artista, fundidos com a História. A infância em São Paulo vem na lembrança dos amigos Elizabeth e Ottaviano De Fiore, e Aguilar. Já o exílio na Inglaterra surge com as palavras de Caetano, Gil e Nelson Jacobina. Mas no momento em que Ruth Mendes, sua mulher, e a filha Amora entram em cena é que aflora o lado mais pessoal do artista. Aliás, um dos momentos mais tensos e intensos do filme ficou de fora. O corte final dos diretores não inclui uma discussão acalorada entre pai e filha. Ela, revelando sentimentos dolorosos de sua criação. Ele, tratando de minimizar o relato. Perguntado em entrevista sobre as escolhas de edição, Bial desconversou: “A decisão foi preservar a intimidade do Mautner e da família”. Dito pelo anfitrião da exposição da intimidade dos “bigbroderianos”, surpreende. Mesmo assim, a dinâmica da produção ganha força com a soma dos elementos narrativos. E Mautner interpreta algumas de suas composições mais marcantes, ao lado de Nelson Jacobina, Kassin, Pedro Sá, Berna Ceppas e Domenico Lancellotti. Marcando a cultura brasileira. Cinema documentário. Para ver e conhecer.

Marcos Santuario

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