Doidamente magnetizante

Doidamente magnetizante

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O personagem principal de "Aqui é o Meu Lugar", o  roqueiro sequelado Cheyenne poderia ter caído no caricatural, não tivesse  sido interpretado por Sean Penn. A trama, dirigida por Paolo Sorrentino,  toda é meio doida, quase absurda, por isso magnetizante.

Cheyenne  tem um visual Robert Smith, do The Cure, é deprimido, fala e andar  arrastado como Ozzy Osbourne, e vive com a mulher de toda a vida, Jane  (Frances McDormand, de Fargo) em sua mansão em Dublin, na Irlanda. É  exótico, com seus 50 anos e cabelos desgrenhados e maquiagem pesada. E  desde que dois fãs se suicidaram por causa de uma de suas músicas  (referência óbvia a Suicide Solution, de Ozzy), parou de cantar e compor.  Vive do que amealhou nos anos 1980.

O antigo astro de rock gótico,  porém, terá de voltar à vida quando seu pai, a quem não vê há 30 anos,  encontra-se à beira da morte, em Nova Iorque. Ele retorna aos EUA, e no  leito de morte do pai, fica sabendo que esse passou boa parte da vida  tentando capturar um nazista que o torturou em Auschwitz durante a II Guerra  Mundial. Sim, Cheyenne é judeu, mas vive longe das tradições de sua  religião.

Entã, a partir deste momento, "Aqui é o Meu Lugar"  torna-se um road-movie, onde Cheyenne sairá em captura do nazista. Ao mesmo  tempo que terá de amadurecer, mesmo que tardiamente. O nome do filme no  original em inglês, This Must Be the Place, é tirado da música homônima  dos Talking Heads, uma das bandas pop emblemáticas dos anos 1980. E não  bastasse a presença de David Byrne, líder e vocalista do grupo, dando uma  orientação ao roqueiro, o filme está repleto de referências àquele  período. Uma cena mostra o quanto Cheyenne está ligado ao período. Ao  tocar a música para um garoto, esse diz ser do grupo Arcade Fire. O  roqueiro corrige: "Não, ela é do Talking Heads", ensina. Para ele, Arcade  Fire não significa nada.

Cheyenne é vivido com primazia por Sean  Penn, mostrando mais uma vez sua extrema versatilidade. Tanto como um  roqueiro ultrapassado, quanto um militante homossexual, um pai arrasado pela  morte de um filho ou um violento gângster. Ele é o filme.

Por Chico  Izidro

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