Hipocrisia visitada

Hipocrisia visitada

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Colocar um texto de teatro na tela do cinema e ter êxito, depende da qualidade do texto, da capacidade do elenco e, sobretudo, do talento do diretor. Roman Polansky acerta com “Deus da Carnificina”, que  deriva da peça da autora francesa Yasmina Reza (do original "Le Dieu du Carnage"). Desde seus primeiros momentos, o filme exige atenção para os detalhes. Ele começa sem você perceber, com uma movimentação embaixo dos créditos iniciais. Convite sutil do diretor para entrar de vez na trama que está em andamento. A obra teatral já foi traduzida para o português e montada recentemente nos palcos brasileiros. Como é de se esperar, os diálogos são intensos, fortes e centro da trama. Momentos de tensão vão se sucedendo no encontro, entre quatro paredes, de dois casais que tentam solucionar, socialmente, questões pessoais e familiares que vem a tona após uma briga entre seus filhos. O fato: dois garotos, na faixa dos 11 anos de idade, brigam e um deles acerta com um bastão o rosto do outro, que se machuca e quebra dois dentes. O desenrolar: clima de tensão que vai se intensificando na casa dos pais do garoto que foi vítima da agressão, Alan (John C. Reilly, visto em “Precisamos Falar Sobre o Kevin”) e Penélope (Jodie Foster, de muitos filmes, entre eles  “Um Novo Despertar”). Dentro da casa, a primeira cena é o prenúncio de uma complexa trama baseada no mais trivial que habita o ser humano. Os pais do agressor, Michael (Christoph Waltz, de “Água para Elefantes”) e Nancy (Kate Winslet, de “O Leitor”), compõem o quadro familiar que contrapõe  à dupla Jodie e Reilly. O talento de Polansky surge nos enquadramentos, reveladores o íntimo dos personagens que transborda em suas ações. Beleza dramática também nas cenas que trazem movimento e surpresa. No filme de Polansky é o que está nas entrelinhas das falas e dos comportamentos que joga luzes sobre as frágeis convenções sociais, que se desmancham no universo da modernidade líquida de Zygmunt Baumann. Uma delícia de reflexão e análise pessoal, familiar e social... ah... e diversão cinematográfica pensante.

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