Aplaudido de pé, em sua exibição oficial na recente edição do Festival Internacional de Cinema de Toronto (Tiff), "Argo", dirigido por Ben Affleck, tem fortes chances de estar entre os indicados a melhor filme na 85ª edição do Oscar. A produção, bem cuidada e com ritmo cativante, coloca nas telas um acerto de contas com o passado recente dos Estados Unidos. Baseado em fatos reais, o longa de Affleck mostra, de forma talentosa, como foi engenhoso o resgate de seis funcionários da embaixada norte-americana refugiados na embaixada canadense no turbulento Irã, em 1980. No início do filme, a batuta do diretor Affleck apresenta uma criativa narrativa em quadrinhos sobre como os EUA ajudaram o xá Mohammad Reza Pahlavi a governar, a partir de interesses econômicos, até ser deposto, em 1979 pelo mundialmente conhecido aiatolá Khomeini. O asilo político oferecido a Reza Pahlavi aqueceu o furor da população iraniana na época, que via no antigo xá um criminoso a ser julgado. Após a negativa do pedido de extradição do xá, as ruas iranianas foram tomadas por protestos, que culminariam na invasão da embaixada dos EUA em Teerã. Esse foi o ponto de partida da histórica "crise dos reféns" (1979-1981), em que os seguidores de Khomeini mantiveram presos, por 444 dias, 52 norte-americanos em retaliação à presença do antigo xá em território dos EUA. Mas o foco da câmera de "Argo", no entanto, fixa-se no que aconteceu com os seis funcionários que conseguiram escapar à invasão. E quem encarna um dos personagens principais da trama é o próprio Affleck. O já consagrado ator assume a personalidade do oficial da CIA Tony Mendez , que coordena um resgate cinematográfico. A partir do surgimento desta parte da trama, o filme toma outro ritmo, ganha força e tem potencial para seduzir o espectador na tentativa de resgate que apresenta momentos bem conduzidos de emoção e surpresas. O roteiro de "Argo é extraído de arquivos secretos, só revelados a público durante o governo de Bill Clinton, a partir de 2001. É uma delícia ver como Affleck consegue apresentar a trama com um toque de fina ironia introduzindo o mundo da fantasia hollywoodiana. Vale ler sobre o tema antes de ir ao cinema, pois a decisão de Affleck é a de não ir a fundo nos conflitos político, social ou mesmo cultural dos acontecimentos. Tenso na medida que agrada, "Argo" tem um ar de realismo, contextualizado, mas sempre possível. Se no Canadá Affleck foi aplaudido de pé, pode ter a mesma felicidade na festa do Oscar no ano que vem. Veremos.
Por Marcos Santuario