Mais fragmentado

Mais fragmentado

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Fui à sessão especial de "Menos que Nada", do ex-colega de mestrado, professor e diretor Carlos Gerbase, com muita vontade de ver um filme com impacto, profundidade e capaz de levar ao famoso "estado de cinema".  O convite de Gerbase, feito filme na tela, é para que  ingressemos no universo da saúde mental e pelo imaginário das pessoas que nele estão imersas. Mas o trabalho final esbarra na fragilidade de sua própria fragmentação. Tem momentos melhor resolvidos e que geram certa intensidade. Mas, em geral, carece de uma força dramática e de atuação de atores capaz de prender, seduzir e envolver. O resultado, para o público, pode ser uma falta de empatia imediata com a trama e seus protagonistas. A musicalidade, em busca de sons primitivos, com percussão, sopro e flautas, que reuniu Nenung (do Darma Lóvers), Marcelo Fornasier (o popular 4Nazzo) e Bina Meira (baterista do DeFalla), se torna ponto alto, mas que poderia (e deveria) ser mais utilizado na trama. A ausência de uma sonoridade mais marcante e presente resulta em fragmentos narrativos que poderiam ganhar maior impacto, mas que perdem intensidade por sua resolução. O Gerbase do plaudidíssimo "Tolerância", que dirigiu com força dramática Maitê Proença, Roberto Bomtempo e Maria Ribeiro e, depois trouxe um olhar de flaneur  em "Sal de Prata", já ousou em uma estratégia de distribuição multiplataformas em  “3 Efes” ( lançado simultaneamente em cinema, tevê, dvd e internet). Agora, retorna, e parece agora focado mais nestas possibilidades tecnológicas do que na resolução da intensidade dramática e de conteúdo de sua nova obra. A melhor atuação de "Menos que Nada" está no trabalho do ator Felipe Kannenberg, na pele do homem misterioso e desequilibrado que se encontra internado. Rosanne Mulholland, Branca Messina e Maria Manoella, as personagens femininas da trama, tentam dar o contorno dramático, sem total êxito.  A teatralidade suplanta a naturalidade esperada e desejada em cena. Um momento de cinema para buscar mais perguntas do que respostas. E conhecer um pouco mais do Gerbase atual.

Por Marcos Santuario

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