Meryl de ferro
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A produção não vai agradar a todos. Já não agradou ingleses, com a escolha de Meryl Streep. Talvez não agrade argentinos, pelo episódio que lembra a Guerra das Malvinas. Mas, apesar das mudanças locais e globais provocadas a partir do surgimento da líder inglesa, o foco dramático da sensivel da diretora está fixa-do, em grande parte, na humanidade definhante de uma senhora que luta para superar o processo degenerativo do Alzheimer que a acometeu, enquanto lembra de seu passado de superação, conquistas e dores. O ano foco é 2003, quando a ex-premiê tenta se desligar do marido morto, Denis (vivido pelo comedido Jim Broadbent). As referências ao poder, as perdas e ganhos, são decisivas para uma narrativa que flui sem tornar-se pesada. Fácil ver pessoas da vida de cada um de nós nos papéis de Margareth. Da irmã ou amiga lutadora, que supera preconceito de classe e, estimulada pelo pai, se torna uma líder; da mãe que faz escolhas difíceis em sua família; e da vó que esquece do imediato mas que não perde a ternura. E é esta humanidade que pode capturar o espectador, já que as lições de história são superficiais e secundárias. Mesmo assim, estão na tela, o conhecido pulso firme de Margaret (incluindo a origem do apelido de Dama de Ferro, presente russo), a austeridade de suas políticas dos anos 80 (que lhe custaram caro), atentados do IRA, a vitória militar nas Malvinas, e a traição dentro do próprio partido. Um oportuno banho de realidade, no meio do universo virtual e de 3D que impera nas salas de cinema.
Por Marcos Santuario