Mistura de policial com terror

O filme "Livrai-nos do Mal" ("Deliver Us From Evil"), com direção de Scott Derrickson (de "O Exorcismo de Emily Rose"), é uma boa surpresa no gênero suspense/terror nos cinemas. Isso porque foge de fórmulas do estilo que apresentam mistérios em casas recém compradas por famílias desavisadas sobre uma maldição ou assombração do local. Agora os fenômenos sobrenaturais são enfrentados por um policial de Nova Iorque, que atua na violenta área do Bronx. Ele pode ter muitos defeitos, mas não é crédulo. Interpretado com precisão por Eric Bana, o protagonista é um agente de forças especiais cético, mas que enfrenta uma série de acontecimentos tão sinistros que começa a se questionar se realmente não está frente a algo sobrenatural.

Com roteiro de Scott Derrickson e Paul Harris Boardman, a história é inspirada no livro que o verdadeiro Ralph Sarchie escreveu em conjunto com Lisa Collier Cool, e que diz relatar fatos reais. Tudo começa quando o sargento Sarchie é chamado para um caso em que uma mulher aparentemente em surto joga sua criança em uma jaula em um zoológico, onde havia um homem misterioso com um capuz nas proximidades. A medida que se aprofunda na investigação, o policial começa a encontrar inscrições em paredes e atos violentos que o fazem questionar suas crenças. Afetado pelo que vê, seu estresse começa a chegar na sua relação com sua mulher, Jen (Olivia Munn), e com a filha pequena, Christina (Lulu Wilson).

Um padre que não usa batina, Joe Mendoza (Edgar Ramírez), e acaba conhecendo o policial acredita que estejam frente a um caso de possessão demoníaca, visto que os envolvidos apresentam características destacadas nos rituais cristãos para o discernimento sobre as vítimas: apresentam uma força incomum ou não condizente com seu peso, falam diferentes línguas mesmo sem ter tido instrução para isso e se mostram violentos frente a orações ou objetos cristãos.

A trama é bem construída, mas usa do recurso de alguns sustos que nem sempre atingem o efeito desejado. Entre os pontos positivos do filme, está a coerência quanto ao combate ao mal. O religioso explica a Sarchie que a maneira de enfrentar este tipo de caso é espiritual, não sendo um caso de polícia comum. Desta forma, o longa-metragem evita cenas um tanto ridículas que apareceram em títulos anteriores do gênero, em que um indivíduo acaba por vezes lutando artes marciais com um demônio, levando essas produções a se tornarem um deboche ou a flertarem com o "trash".

Aqui há momentos de violência, mas logo se impõe que a luta contra o mal exigirá todo o esforço possível, não apenas físico, mas também intelectual e espiritual, mantendo um paralelismo de "forças". Para o famoso produtor da obra, Jerry Bruckheimer (responsável por alguns dos maiores blockbusters do cinema, como a franquia "Piratas do Caribe"),  o filme levanta questões reais. “Quaisquer que sejam as suas crenças, existem fenômenos que não podem ser totalmente explicados pela ciência ou pela medicina", justificou na divulgação do filme.

Faltaram apenas algumas explicações mais claras que o roteiro (ou a edição) acabaram deixando de fora, como o motivo de as vítimas do mal terem como comportamento comum arranharem o chão ou as paredes e se o nome do espírito afinal tinha algum significado. Essas questões ficaram no ar.

"Livrai-nos do Mal" acaba aliando, nesta batalha, a coragem e a competência da investigação de Sarchie com a fé e o conhecimento de Mendoza e ambos amadurecem através das experiências que vivem. Uma parceria que deu certo na trama.

Adriana Androvandi?