Nada é perfeito

Nada é perfeito

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Qual cara nunca ficou projetando a garota ideal de sua vida? Os nerds de "Mulher Nota 1000" o fizeram em 1985, sob direção de John Hughes. Em "Ruby Sparks - A Namorada Perfeita", direção de Jonathan Dayton e Valerie Faris, o escritor solitário e nerd Calvin Weir-Fields (Paul Dano, de Sangue Negro) está tentando escrever um livro, dez anos após sua estreia, quando foi considerado o novo gênio da literatura americana por público e crítica.

Sonhos invadem seu sono, onde uma garota conversa amorosamente com ele. E não é que ao colocar suas ideias no papel, elas terminam por se materializar. A garota, Ruby Sparks, surge como ele idealizou. Carinha de bebê, mesmo que já com 26 anos, pouco glamour, carinhosa. E qualquer característica que Calvin escreve em sua máquina de escrever, sim, ele usa máquina de escrever, transfere-se para a garota.
"Ruby fala francês", dedilha ele. Zap. Ruby aparece despejando fluentemente a língua de Victor Hugo. "Ruby está triste". Pronto. Ruby fica pelos cantos, chorando, inconsolável.

No começo, Calvin acha que a garota é só fruto de sua imaginação, até constatar que ela interage com as outras pessoas. E Ruby é uma garota normal, nada de excepcional. Sem grandes seios, nem bundão, nem beleza extravagante. Ruby talvez seja o alter-ego de Calvin, ou apenas fruto da imaginação do escritor, que enfurnado em sua casa, tenta escrever um novo sucesso e provar não ser apenas o homem de um sucesso só, acabando por ser absorvido pelo livro. "Ruby Sparks - A Namorada Perfeita" está sujeito a várias leituras e aborda muito mais o mundo masculino. Lembra muito "O Magnífico", de Philippe de Broca, de 1973, com Jean-Paul Belmondo vivendo um escritor que imagina ser um espião secreto e garanhão, compensando assim sua vida frustrada.

Interessante, também, é que o namoro de Calvin e Ruby, mesmo vindo do pensamento do escritor, acaba tendo os contratempos de qualquer relacionamento, com brigas, ciumeiras, marasmo. Ou seja, não existe a perfeição. O filme ainda conta com uma divertida participação de Annette Bening e Antonio Banderas como um casal cinquentão e riponga.

Por Chico Izidro

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