Quem acompanha o cinema realizado por Pedro Almódovar tem motivos para se surpreender. "La Piel que Habito", tem Antônio Banderas no papel de um médico cirurgião plástico que convive com duas perdas: perdeu sua filha adolescente e sua mulher morreu queimada. É com este contexto pessoal que o personagem vivido por Banderas e guiado por Almodóvar investe numa trama, nada burlesca e nem com a afetação tradicional dos filmes já conhecidos do diretor espanhol.O tom do filme é uma mescla, que vai do suspense ao policial, passando por momentos de melodrama, sem perder o ritmo. Décimo oitavo longa de Almodóvar, "La Piel Que Habito" recebeu muitos aplausos em festivais ao redor do mundo. No Festival de Toronto deste ano, Banderas manteve uma postura observadora e acompanhou as reações dos públicos nas sessões do filme. Bons momentos do filme mostram experiências com um novo tipo de pele artificial, sintética capaz de ter muita resistência (financiada por laboratórios interessados no lucro), realizadas pelo médico vivido por Banderas. Os grandes espaços da casa que é a locação principal do filme remetem a um espaço de convivência e experimentação. Na casa vivem o médico, a governanta (a genial atuação de Marisa Paredes) e uma paciente inquieta, com quem o personagem mantém um caso amoroso, e que deseja fugir (a bela e interessante Elena Anaya, que esteve em
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Inimigo Píblico 1 e 2). As referências ao Brasil surgem num espaço que parece uma rua de favela, e a momentos de uma musicalidade com o estilo da brasilidade viva. Também não é difícil entender que o cirurgião plástico poderia ser uma espécie de Pitanguy almodovariano. Mas, nem tudo nasceu da mente criativa do diretor espanhol. A trama é uma livre adaptação de um livro de Thierry Jonquet (morto em 2009) que se chamava
Tarântula. Tem pitadas de ficção cientÍfica, com as deliciosas histórias de cientistas malucos em busca de soluções miraculosas. Parece que ele mudou muito do orginal, mas está presente, ainda o tema da vingança e acentuando o da identidade sexual, a transexualidade. Muito compreensível, vindo de Almodóvar. Vá ver de mente aberta...
Por Marcos Santuario