Perseguição e lágrimas

Perseguição e lágrimas

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Osama Bin Laden é, para muitos, figura histórica. Quando foi capturado pelas forças norte-americanas, no início de 2011, considerado o terrorista número um no ranking dos perseguidos, foi manchete mundial. A saga desta captura pode ser revivida em  “A Hora Mais Escura” (“Zero Dark Thirty”), dirigida pela oscarizada Kathryn Bigelow (ex-mulher de James Cameron e aplaudida realizadora do oscarizado “Guerra ao Terror”). Na trama, um elenco de peso, que inclui Jessica Chastain (de “Os Infratores”) e Mark Strong (visto em “John Carter: Entre Dois Mundos”). Desfilam pela tela em “A Hora Mais Escura” fatos de mais de dez anos de procura por Osama Bin Laden, entre as gestões de três presidentes, passando pelos militares, os governadores e os serviços de inteligência. O roteiro traz um tom de criticidade importante aos governantes e, talvez por isso, tenha recebido ataques da ala conservadora antes mesmo de seu lançamento. Os posicionamentos ali apresentados podem ser foco de discussões e debates. Concordâncias e dúvidas. Cinematograficamente, a análise aponta para uma narrativa envolvente e uma série de escolhas de roteiro e direção, que colocam no centro uma personagem que conduz o espectador pelos meandros das estratégias políticas e militares do governo dos EUA.

Para produzir o longa sobre Bin Laden, a diretora teve acesso a documentos secretos. E o filme já começa explicando que é "baseado em informações colhidas com os envolvidos". A analista da CIA, vivida por Jessica Chastain, foi considerada chave para a busca de Bin Laden, assassinado pelas forças de elite americanas em uma operação audaciosa em seu esconderijo no Paquistão. O longa, de duas horas e meia de duração, acompanha a agente da CIA durante a década em que trabalhou para localizar o cérebro dos ataques de 11 de setembro de 2001 contra Nova Iorque, Washington e Pensilvânia. A trama inclui cenas impactantes dos métodos de tortura, entre elas o afogamento e a humilhação, usados para obter dos presos informações que acabaram levando-os a descobrir o esconderijo de Bin Laden en Abbottabad, no Paquistão. Com a sensibilidade de Katheryn Bigelow, “A Hora Mais Escura” é um suspense de ação que começa com diálogos sem imagens. Vai avançando ao mostrar cenas de tortura, física e psicológica, e o envolvimento e a dedicação da analista da CIA. As filmagens começaram antes da morte do líder máximo da rede Al-Qaeda, e a produção está na disputa pela estatueta do Oscar deste ano. Concorre em cinco categorias. Melhor Filme, Melhor Atriz (Jessica Chastain), Melhor Roteiro Original (Mark Boal), Melhor Edição e Edição de Som. E o filme já chega premiado. No final do ano passado, pelo Círculo de Críticos de Cinema de Nova Iorque, escolhido como Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Fotografia.

"A Hora Mais Escura" poderia ter resultado em um documentário pesado, violento e denso. Não é o que ocorre. Talvez a veracidade conferida, muitas vezes, ao universo do on line, seja fator relevante para, em alguns momentos, entrar na trama proposta no filme, com sensação de ficção. Mas o que fica mais claro é a competência da direção de Kathryn e a atuação convincente de Jéssica. Dão o tom do realismo possível. O feminino, no meio de um contexto e de uma briga, eminentementes, masculinos, contemporâneos e globais. No final não há buraco, o perseguido morre e lágrimas dão o tom do humano, vivo e interrogante.

Por Marcos Santuario

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