Realismo incômodo
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Um drama psicológico, "O Apartamento" (Forushande), dirigido pelo iraniano Asghar Farhadi, não é
uma obra de difícil compreensão, mas atitudes de alguns de seus personagens acabam incomodando.
Acompanhamos na história o casal Emad (Shahab Hosseini), ele professor universitário durante o dia, e
ator de teatro à noite, ao lado da Rana (Taraneh Alidoosti).
Morando em Teerã, uma noite recebem a orientação de deixar seu apartamento, assim como todos os
moradores do prédio, pois o local corre risco de desabamento. Os dois acabam indo morar num
apartamento emprestado pelo diretor da peça que encenam, "A Morte de um Caixeiro Viajante", do
dramaturgo americano Arthur Miller. E lá Rana acaba sendo atacada por um homem desconhecido, que
invadiu o local enquanto ela estava no banho e Emad estava fazendo compras.
Como é um filme iraniano, nunca fica claro se Rana foi estuprada ou não. Mas o banheiro fica cheio de
sangue e a atriz fica machucada na cabeça. Ela passa a ter medo de ficar no local quando Emad não
está junto, enquanto ele passa a investigar sozinho o ocorrido, já que Rana não quer que seja feito o
boletim de ocorrência na polícia. Talvez por temer o que possa ocorrer com a sua reputação, afinal ela é
uma mulher num país onde o machismo é imperativo, principalmente por suas leis interpretadas
equivocadamente do Alcorão.
E isso acaba sendo extremamente realista, pois se talvez mostrasse a personagem de Rana mais forte e
vingativa, perderia muito de sua denúncia de uma sociedade onde a mulher não tem voz. Isso, porém,
até acaba sendo irritante para olhos e pensamentos ocidentais, como os nossos.