Rock saboroso

Rock saboroso

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Os anos 1980 foram, sem sombra de dúvida, os mais importantes para a história do rock nacional. E grande força dele veio de Brasília, com bandas seminais como Legião Urbana, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso e Plebe Rude, que agora têm suas trajetórias contadas no documentário Rock Brasília, do quase octagenário Vladimir Carvalho. O filme é calcado em imagens de época - como o célebre show do Legião em 1988 no Mané Garrincha, em Brasília, e que acabou em quase-tragédia, e entrevistas com os protagonistas daquele período turbulento.

O rock naquela cidade quente e distante e monótona surgiu pelas mãos de garotos entediados, a maioria filhos de diplomatas, professores universitários e outros funcionários públicos que tinham dinheiro e haviam vivido no exterior. Assim, sabiam inglês e tinham condições de adquirir discos que reles mortais dificilmente poderiam ter (lembre-se, estávamos numa era pré-internet, quando baixar música era um sonho impensado). Eram discos de bandas, principalmente punks, como Clash, The Damned, Sex Pistols, Ramones, entre outras. Também podiam adquirir instrumentos e ensaiar nas horas vagas, que diga-se de passagem, eram muitas.



A figura central e um ídolo para todos é Renato Russo, visto como um guru desde o princípio, mesmo que tivesse ataques de prima-dona. O ex-vocalista da Legião Urbana aparece em dois momentos, numa entrevista para o próprio Carvalho em 1988 e em outra para a MTV, em 1994, quando já era portador do HIV, que o mataria dois anos depois. O músico foi, ao lado de Cazuza, o melhor letrista do cenário roqueiro brasileiro. Também dão depoimentos integrantes da Capital Inicial, como os irmãos Flávio e Fê Lemos, e Dinho Ouro Preto, e Phillippe Seabra, da Plebe Rude. É interessante comparar imagens de 25 anos atrás com as de agora dos músicos.

Rock Brasília relembra como foi difícil superar a censura da Ditadura Militar e a intransigência das gravadoras, que queriam aliviar e muito aquele rock nervoso e crítico. Para quem foi adolescente nos anos 1980, o documentário é saboroso, pois faz uma viagem excepcional no tempo. E nos faz pensar de como podiamos usar aquelas roupas e cabelos...mas Rock Brasília peca em não ser um pouco mais didático. Afinal, se deseja alcançar um público mais amplo, como a gurizada de hoje que consome bobagens como Restart e outras que nem é bom citar, faltam situar melhor no tempo e espaço alguns eventos históricos.


Por Chico Izidro

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