Samba do rato doido
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A trama é interessante. O braço da CIA no Brasil, cujo agente é Troy Summerset (Selton Mello), que trabalha no Rio de Janeiro sob o disfarce de um dono de uma sapataria, planeja derrubar o presidente da República, que estaria levando o Brasil aos braços do comunismo. Troy se une ao Major Esdras (Octávio Müller). Os três alcançam enorme sintonia, têm diálogos hilários, rápidos e rasteiros, e mais acentuados ainda por aquela voz meio anasalada de Mello, um americano sem nenhum sotaque.
Mauro Lima tenta recriar o clima daquela época. Até consegue, através de uma cuidada reconstituição de época e belas imagens em preto e branco durante boa parte do filme, devido a um flash-back de Troy. E personagens interessantes, como a sedutora cantora Amélia (Rafaela Mandelli) e seu acentuado sotaque sulista, ou o sebento Roni Rato (Rodrigo Santoro, irreconhecível e totalmente despojado de glamour graças a uma forte maquiagem), e até mesmo o efeminado radialista Hervê (Cauã Reymond), que tem o poder de prever o futuro, mas que inexplicavelmente vira uma espécie de ninja a certa altura do filme.
Então qual seria o problema de "Reis e Ratos?" O problema está no roteiro, confuso, tentando pegar carona nos filmes de espionagem da época da Guerra Fria, sem sucesso. Em determinado momento, Mauro Lima não consegue mais explicar nada, transformando "Reis e Ratos" num verdadeiro, como se diria à época, samba do crioulo-doido. Bem que no final todo mundo sabe no que deu. Os golpistas, não os atrapalhados deste filme, conseguiram o sucesso, derrubaram Jango e o Brasil se viu durante um período de trevas de 25 anos.
Por Chico Izidro