Sensacionalismo ausente
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Em “A Hora Mais Escura”, Bigelow consegue ser soberba, retratando os dez anos de entrega total de uma agente da CIA na busca pelo chefe da Al Qaeda, o saudita Osama Bin Laden. O cabeça por trás dos atentados de 11 de setembro. A agente Maya é interpretada pela ruiva Jessica Chastain, que vem construindo excelente carreira na telona. Nos últimos tempos, ela pode ser vista em “Histórias Cruzadas”, “A Árvore da Vida”, e “O Abrigo”, por exemplo. Maya, em sua primeira aparição, treme ao assistir a uma sessão de tortura praticada pelo colega Dan (Jason Clarke). O torturado é guinchado, é surrado, sofre um falso afogamento, é obrigado a rastejar de quatro. Aos poucos, Maya vai endurecendo o coração e o modo de agir. E atente, o filme não glorifica a tortura, apenas reconstitui o que realmente ocorreu em prisões como Guantánamo e Al Ghraib.
Cada momento da investigação é minuciosamente detalhado e dramatizado com excelentes atuações. E foca muito em encontrar o mensageiro de Bin Laden, o homem que fazia o meio de campo entre o líder e seus seguidores. E ao encontrá-lo, a constatação: acreditou-se durante anos que Osama Bin Laden encontrava-se escondido em alguma caverna nos confins do Afeganistão, protegido pelos furiosos talibãs. Só que ele estava no Paquistão, em Abbottabad, a cerca de 40 quilômetros da capital Islamabad.
O cerco ao terrorista foi filmado na Índia, ali do lado do Paquistão, e reconstitui com maestria os acontecimentos. Desde a descoberta da casa, a dúvida se ali mesmo morava o homem mais procurado da Terra. E a meia-hora final cria um climax muito superior, por exemplo, ao excelente “Argo”, de Ben Afflek. Já conhecemos o término, a morte de Osama. Mas a forma como Bigelow dirige a cena...não há trilha sonora, apenas o pipocar dos tiros das metralhadoras, as explosões das portas e do helicóptero que caiu na rua, e os marines invadindo na tal hora mais escura, uma noite sem lua, aquela mansão de três andares, e caminhando pela escuridão, peça por peça, sussurrando “Osama, Osama”. A diretora, enfim, nunca mostra o rosto do saudita morto, apenas o corpo baleado, evitando assim o sensacionalismo, e fazendo a gente querer ver o filme novamente, para analisar cada detalhe.
Por Chico Izidro