O filme se passa em Los Angeles. Mas isso é o que menos importa. O tempo é em um futuro próximo. Isso já causa interesse. E a temática reúne relacionamento amoroso e solidão em plena era digital. Estes são alguns dos componentes do inteligente e sensível “Ela”, dirigido por Spike Jonze (o mesmo de “Adaptação” e “Quero ser John Malkovitch”). Quem conhece as outras obras do autor já sabe que ele não é do cinema facilmente digerível, entre uma pipoca e outra. Mas tampouco faz o estilo hermético/intelectualóide. Na trama de "Ela" , Theodore (vivido por Joaquin Phoenix) é um escritor de cartas solitário, que acaba de comprar um novo sistema operacional para seu computador. Mas não é um simples escritor, pois dita cartas de seu coração, direto para o sistema operacional. E é exatamente quando compra novo sistema operacional que começa um relacionamento com a voz feminina que dá vida ao software. A voz é de
Scarlett Johansson e não demora para ela, sistema inteligente "e sensitivo", moldar-se às necessidades do jovem em processo de divórcio. Incomum, sem ser absurda, a história de amor revela o contato entre o homem contemporâneo e a tecnologia. O próprio diretor já revelou, em entrevista, que pensou na história pela primeira vez há quatro anos, quando conversou com um sistema parecido com o desenvolvido pela Apple.
A trama pode envolver, se o espectador se deixar levar pelo tom romancesco, dramático e até tecnológico do processo. Pode render muita conversa para um café, sobre o que acontece nos corações e nas mentes contemporâneas, além de oscultar as possibilidades tecnológicas e os impactos que podem ter sobre nós, "simples mortais". Roteiro instigante e fotografia competente. Vale!
Marcos Santuario