Um guarda divertido

Um guarda divertido

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Um policial irlandês escuta, junto a vários colegas, uma preleção de um agente do FBI falar sobre traficantes de cocaína que pretendem introduzir vários quilos da droga na Irlanda. Então pergunta se os traficantes são mesmos criminosos, afinal são brancos. O agente, negro, replica que sim. "Ah, mas é que pelo que eu sei todos os traficantes são negros ou mexicanos", dispara. E continua, para espanto do americano, falando que o racismo faz parte da cultura irlandesa.
O policial é Gerry Boyle  (Brendan Gleeson, de Harry Potter e a Ordem da Fênix e O Alfaiate do Panamá) no divertido "O Guarda", direção de John Michael McDonagh, e que evita o politicamente correto. Que convenhamos, já está no limite do suportável. Ele terá de ajudar Wendell Everett  (Don Cheadle) a encontrar os traficantes e solucionar o assassinato de um morador da pequena cidade onde se passa a história. O problema é Boyle não é nada profissional. Pelo contrário, seus métodos são toscos, antiquados, e não está nem um pouco interessado em trabalhar. Quando as investigações irão iniciar, Boyle diz que não vai, porque é seu dia de folga.
Everett, então, tem de encarar a missão sozinho e verá o quanto é difícil, pela cor de sua pele, conseguir que os moradores da localidade colaborem nas investigações. Numa cena, sob forte chuva, ele bate à porta de uma casa e a mulher que atende, espanta-se ao ver um negro ali parado, segurando um guarda-chuva. Então fala em gaélico para o marido. "Tem um negro aqui na porta". E claro que o casal se recusa a ajudá-lo.
"O Guarda" mostra aquele antigo esquema de dois policiais de comportamentos diferenciados tendo de trabalhar juntos. Mas ao contrário, de por exemplo, Máquina Mortifera, onde um era louco e o outro um severo pai de família, este filme se aproxima mais de "O Calor da Noite", onde um agente federal tem ao seu lado um xerife racista. Só que no clássico dos anos 1960, com Rod Steiger e Sidney Poitier, a seriedade não concedia espaços para o humor.

Por Chico Izidro

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