Um Lincoln spielberguiano

Um Lincoln spielberguiano

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Nem as 12 indicações ao Oscar deste ano podem tornar "Lincoln", de Steven Spielberg, um filme inesquecível. Bem filmado sim. Ótimo ator principal, sim. Domínio de cores, sim. Reconstrução de época, sim. Mas, como obra completa, a trama protagonizada pelo excelente Daniel Day-Lewis deixa muito por querer.  Baseado no livro “Team of Rivals: The Genius of Abraham Lincoln”, de Doris Kearns Goodwin, “Lincoln” se desenrola no período da Guerra Civil norte-americana, que acabou com a vitória do Norte. E aí já esbarra num emaranhado discursivo-politico-sociológico-norteamericanista-histórico que pode dar nó na cabeça dos cinéfilos. Claro que todo filme merece um esforço. E, volto a dizer que, nenhuma crítica é melhor do que qualquer filme. Mas não dá pra esperar que a produção spielberguiana fascine e fique na memória como obra essencial. Falta ritmo e sobra articulação discursiva. Fixo no presidente, que já rendeu um Globo de Ouro de Melhor Ator para o talentoso Day-Lewis, o olhar do espectador vai encontrar a figura humana que mescla o rústico ao estadista. O visionário ao pai frustrado e marido com déficit de felicidade. Se torna muito drama e, pior, embalado por uma trilha sonora melosa, melancólica e excessivamente marcante. Vale saber que o 16º presidente norte-americano, Abraham Lincoln, ao mesmo tempo em que se preocupava com o conflito interno dos EUA, travava uma batalha ainda mais complicada em Washington. Ao lado dos colegas de partido, Lincoln tentava a aprovação de emenda à Constituição dos Estados Unidos que acabava com a escravidão. Aula de História, básica. Depois é estar disposto a um possível cansaço para acompanhar as negociações, as articulações políticas, os acordos e os comportamentos duvidosos dos políticos de então. Nada novo também na contemporaneidade em que vivemos. Alguns bons momentos: a cena inicial do filme remete à lembrança que acompanhou Spielberg desde a infância, ao assustar-se com a famosa estátua branca de nove metros, de Lincoln, em Washington. Hoje, aos 66 anos, o diretor premiado, aplaudido e economicamente muito viável, revisita seu passado e o dos EUA e coloca Day-Lewis em cena, ao lado de Sally Field, David Strathairn, Joseph Gordon-Levitt, James Spader, Hal Holbrook, Francis Preston Blair e Tommy Lee Jones. Vá ver, se puder....

Marcos Santuario

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