Tem certos diretores de cinema que podem. Podem ousar. Podem surpreender. Podem espetacularizar. Podem simplificar. E podem até errar. Um deles é Woody Allen, que agora vem mostrar seu sentimento e sua visão sobre a Itália de muitos amores, possibilidades, imaginações e desejos. "Para Roma com Amor", que vem lotando salas de cinema por aqui e pelo mundo, tem todos os ingredientes conhecidos da filmografia do diretor. Para lembrar, lá pelos anos 1990, Allen vivia fase em que expressava sua admiração pelo sueco Ingmar Bergman (vide "
Interiores" e "
Setembro". O radicalismo dos temas intimistas e existenciais daqueles momentos deu passagem a viagens geográficas e estéticas por diferentes partes do mundo, sem perder o olhar mais interior de personagens e vivências. Depois de “Vicky Cristina Barcelona” (2008) e "Meia-Noite em Paris” (2011) , Allen mostra agora uma Itália contemporânea, mas com a grandiosidade das coisas simples que habitam o imaginário mundial em relação ao país europeu. E ele mesmo se mistura aos personagens ( desde “Scoop – O Grande Furo” - 2006 -não participava como ator nos filmes que dirigia) que descobrem e se descobrem em meio ao ar italiano da comédia dramática. Talvez a grandeza de seus filmes esteja exatamente na simplicidade com a qual apresenta as narrativas do cotidiano que flerta com a vida de quase todos nós. E num momento em que viajar se tornou realização de desejos pessoais e mais possível do que nunca, Allen leva espectadores ao cinema para viver lugares desejados nas rotas dos viajantes... para pré viver emoções e colocar nas malas... ou para reviver momentos sentidos por lá... Na tela de "Para Roma com Amor", Penélope Cruz, Roberto Benigni, Alec Baldwin, Jesse Eisenberg, Ellen Page e vários outros compõem as tramas que se complementam sem necessariamente se cruzarem. E no meio da trama, Allen brinca com a pseudo fama na sociedade contemporânea, com as tramas familiares, com os jogos de sedução e com os sonhos e desejos latentes em cada um. Como filosofei lá no começo, Allen pode. Goste você ou não...
Marcos Santuario