A moda para quem gosta e se identifica

A moda para quem gosta e se identifica

Moda sem gênero propõe liberdade e maior variedade

Lou Cardoso

Marca Lib trabalha com moda agênero em Porto Alegre

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A moda se renova todo dia e está cada vez mais plural. Seja no modo como se produz – conscientizando sobre meio-ambiente, mão de obra e consumo – ou no modo como se veste. Ditar o que é certo e errado ou se combina ou não são tendências até, de certa forma, antiquadas na atualidade. Por isso, a moda sem gênero parece ser não só uma expressão mais democrática, como, também, libertadora.

A expressão “sem gênero” ou simplesmente “agender” significa sem identificação de qualquer gênero, a vontade de não possuir gênero, conforme o glossário feito pela LGBT Campus Center da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos. O que pode traduzir, muitas vezes, a forma como determinada pessoa deseja se vestir, principalmente, se não se identifica com o que encontra na seção de roupas masculinas ou femininas.

“Roupas são feitas para qualquer pessoa que tenha vontade de usá-las”, disse a idealizadora da marca Brusinha e Cia, Laura Oliveira, que apostou nesta concepção para fugir do senso comum do mercado da moda e abraçar a criatividade que este estilo pode oferecer. “Nós procuramos não distinguir gênero nas nossas peças, acreditamos que as roupas são feitas para qualquer pessoa que tenha vontade de usá-las. Para isso procuro fazer uso de modelagens versáteis que servem em todos os corpos.”

Marca Brusinha & Cia trabalha com moda sem gênero em Porto Alegre. Foto: Reprodução / Instagram

Não ter regras e se livrar de pré-conceitos foi o que levou a jovem Brenda Costa a criar também a sua marca de roupas agênero Lib. “Agênero é algo que não tem um gênero definido, não é nem masculino nem feminino, para pessoas têm um significado ainda mais profundo, mas para roupas e acessórios, significa que qualquer pessoa, independente do seu gênero poderá usar. Quem gosta e se identifica, usa.”

Elementos que se misturam

Para a professora de Moda da Faculdade Senac, Nicele Branda, a divisão do que são roupas masculinas e femininas tornou-se mais nítida, historicamente, com a Revolução Industrial. “Diversos movimentos de moda, influenciados por comportamento, tornaram possível a incorporação de trajes do sexo oposto. Por exemplo, nos anos 1920 do Século XX, mulheres aderiram a silhueta tubular, disfarçando os seios com amarrações e usando peças como calças e cardigans, até então, usados só por homens. Já nos anos 1970, alguns homens usavam plataformas, roupas justas e coloridas”, explicou a docente, que ainda complementou que nas décadas seguintes a moda continuou a misturar elementos tidos como feminino e masculino. “Nos anos 1980, as mulheres começaram a adotar ombros marcados e cabelos curtos. Alguns lançamentos e tentativas de unissex ocorreram nos anos 1990, com a simplificação das formas.”

Para Nicele, a internet contribuiu para que a moda se abrisse e proporcionasse mais releituras: “Essa troca e incorporação de elementos deu-se em diversos momentos registrados em livros de história da moda. Porém, com o advento da internet, o fácil acesso a informação, a discussão se dá no campo do comportamento com maior ênfase atualmente”. 

Imposição da moda

A determinação de roupas femininas e masculinas foi, tantas vezes, impulsionada pela indústria fashionista quanto pelo comércio. Preferir uma peça que não condiz com o seu gênero pode gerar, na maioria das vezes, mais incômodo do que satisfação. “Na verdade sempre achei que as roupas não deveriam ter gênero e, na verdade, elas não têm mesmo. Quem impõe isso é a sociedade, que diz que homem não pode usar saia ou vestido, mas a roupa em si veste quem quiser vestir ela”, afirmou Brenda.

“Então a moda agênero te liberta de tudo isso, ninguém vai te julgar se a peça que tu estás comprando é masculina ou feminina, as estampas são as mesmas, o modelo é o mesmo, você usa como quiser, combina com o que quiser e paga o mesmo preço e um preço acessível”, completou a proprietária da marca Lib.

A moda andrógina, que foi tão marcada pela imagem do cantor David Bowie no passado, pode se adequar facilmente com a moda sem gênero. “A essência é a mesma, liberdade de uso e discussão de papéis na sociedade. Os movimentos de moda ocorrem de forma helicoidal, os trajes voltam, mas seus significados são alterados pelo fator tempo”, compara ela.

Apesar do conceito, a representatividade visual é importante na hora de mostrar o que é moda sem gênero: “Procuro fazer modelagens que sirvam bem em diferentes corpos e também fazer uso de modelos de ambos os sexos na divulgação das peças. Incentivando, assim, a aceitação do corpo e a diversidade”, declarou Laura, da Brusinha e Cia. 

Na moda sem gênero, no entanto, há uma importância ainda maior para seguir, conforme ressaltou a professora Nicele: “Uma peça é carregada de significados, uma roupa comunica e expressa seu usuário. A moda está cada vez mais plural e segmentada, dessa maneira o estímulo ao rompimento de preconceitos está no respeito e não no questionamento da escolha do outro.”


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