Aprendendo com o mercado

Aprendendo com o mercado

Por Giullia Piaia

Giullia Piaia

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Manuela Benetti, 22 anos, é estudante de Engenharia de Alimentos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e também é presidente do Núcleo de Empresas Juniores de Porto Alegre (NEJ POA), que representa todas as empresas juniores da capital gaúcha. Movimento crescente, hoje são mais de 900 empresas juniores no país, presentes em todos os estados e no Distrito Federal e desenvolvem mais de 17 mil projetos. São tocadas por mais de 20 mil empresários juniores. O NEJ POA representa 318 empresas e tem faturamento de R$ 1.780.000,00.

O que são as empresas juniores?

É um movimento formado exclusivamente por graduandos, as pessoas precisam estar obrigatoriamente na graduação, em alguma universidade. O movimento tem como missão formar essas pessoas por meio da vivência empresarial. Essas pessoas criam empresas juniores, as gerem e aí vendem a sua solução para o mercado. São jovens lideranças que fazem toda a gestão dessa empresa e trabalham com o mercado como se fosse uma empresa sênior.

E o que é o NEJ POA?

O NEJ é uma organização que presta suporte e desenvolve essas empresas juniores na região de Porto Alegre e também de algumas outras cidades, que a gente chama de fora de polo. A gente auxilia essas empresas no desenvolvimento delas.

De que forma?

A gente realiza uma série de eventos o ano inteiro, em que se trazem palestrantes do mercado, pessoas que já passaram pelo Movimento de Empresas Juniores. Isso para trazer falas e capacitações para a galera da rede, proporcionar momentos de troca e conexões entre essas pessoas. A gente também realiza algumas ações mais pontuais de proteção à nossa rede, também para trabalhar individualmente cada empresa júnior. Promovemos capacitações de alguma necessidade pontual de que eles precisam. Também há programas de suporte em que uma pessoa responsável do NEJ entra em uma empresa júnior específica e, ao longo do ano, se coloca à disposição para ajudar em qualquer demanda que seja necessária.

Que habilidades são desenvolvidas nas empresas juniores e porque alguém deveria se juntar ao movimento?

Porque a gente realmente se transforma. A gente entra uma pessoa e sai outra. De maneira bem pragmática, a gente costuma dividir dois grandes elos, as hard skills e as soft skills. A parte de hard skills depende muito do segmento da empresa júnior. Porque hoje, felizmente, a gente tem uma vasta gama de cursos de graduação que já tem empresas juniores, como Engenharia, Medicina, Odontologia, Nutrição, Psicologia, Publicidade e Letras. Executar o projeto, que tu vendes para o mercado, acaba desenvolvendo bastante conhecimento técnico do curso e do assunto que estás envolvido no projeto e também toda a parte de gestão, de lidar com plataforma, com ferramentas de controle de venda, a gente desenvolve bastante habilidades. E olhando para soft skills, principalmente liderança, trabalho em grupo, comunicação, flexibilidade, uma série de benefícios. 
E o movimento é sem fins lucrativos, então todo o valor que a gente recebe através da venda dos projetos é reinvestido na capacitação dos membros das empresas juniores. Se viabiliza a realização de palestras e, até mesmo, viagens para locais onde estejam ocorrendo eventos para empresas juniores, até para outros estados, pois tem empresas juniores no Brasil inteiro.

O que os propósitos de empresas juniores atuantes hoje dizem do futuro da nossa economia e das nossas empresas?

A gente percebe que hoje cada vez mais o mercado de trabalho tem valorizado pessoas que passam pelo movimento de empresas juniores, porque entendem que são pessoas com diferenciais. Por já terem tido contato com clientes, por já terem executado um projeto de verdade, por já terem lidado com um grande grupo, com a responsabilidade que é ter um CNPJ e uma empresa em mãos. A gente, além de ter esse contato com empresas do mercado, que muitas vezes colocam como pré-requisito em processos seletivos a participação em empresa júnior, também percebemos que a visão que a gente traz de empreendedorismo, protagonismo e liderança faz com que as pessoas pensem em empreender no futuro.

Inovação é um tema bastante em alta, com diversos hubs tendo se instalado recentemente em Porto Alegre. De que forma vocês trabalham esse conceito?

Acho que a partir do momento em que a gente está em um cenário instável e que o nosso grande objetivo é auxiliar o cliente e nos desenvolver, muitas vezes até no nosso dia a dia a gente acaba tendo que sair da caixa, buscar inovação, sair do conforto para atender o cliente. Mas constantemente a gente, enquanto NEJ, entra nas empresas juniores para melhorar algum aspecto através da inovação. Por exemplo, se o modelo de negócios da empresa, o projeto que estão vendendo hoje para o mercado não está mais fazendo sentido. Além da rotina proporcionar constantemente momentos para sair da caixa, por precisar se adaptar ao mercado, também se busca isso através de eventos específicos para levantar desafios das empresas do mercado e equipes para solucionar o problema.

Qual o papel das universidades no movimento?

As universidades são, se não o maior, um dos principais apoiadores do Movimento Empresa Júnior, porque, para existir, os participantes têm que estar vinculados a universidades. Além disso, todos os espaços físicos que a gente têm hoje de empresas juniores são dentro de universidades. E o principal ponto da participação das universidades é que todas as empresas juniores precisam ter um professor orientador, que é uma pessoa que vai orientar os participantes a executarem os projetos. Há uma equipe de mestrandos e doutorandos que fazem a validação desses projetos, para que a qualidade final seja boa.

E as empresas locais?

A gente tem uma série de parcerias institucionais, a gente acaba não sendo monetizado por elas, mas funciona como uma moeda de troca, uma parceria mesmo. Eles cedem espaços para realização dos nossos eventos, nos recebem de alguma forma, promovem ações para a gente e para o nosso público de forma gratuita e nos fornecem serviços como contabilidade de advocacia. A gente acaba não pagando por isso porque eles entendem que a visibilidade que obtêm é suficiente para estabelecer a parceria. E também há parcerias monetizadas, das quais o dinheiro automaticamente é encaminhado para a rede. Então, essas empresas de mercado que veem valor no movimento empresa júnior, no diferencial do empresário júnior, acabam investindo no núcleo para ter contato com a rede. Essas empresas parceiras participam dos eventos que promovemos e aí divulgam suas oportunidades, para que, no futuro, quando a pessoa sair do movimento, ela já tenha oportunidades.

O que a motivou a fazer parte de empresa júnior?

Principalmente, o crescimento profissional e pessoal que eu teria. Porque, como citei, tem várias habilidades, técnicas, que são exigidas pelo mercado e que a gente não vê na teoria da sala de aula. A gente precisa dessa parte prática, desse desenvolvimento antes mesmo de se formar. Eu entendo que se não tivesse tido essa experiência, lá na frente ia me deparar com muitas situações do mercado que eu estaria mais despreparada. Sinto que esses objetivos foram cumpridos com muito sucesso e todas as pessoas que saem do movimento sentem o mesmo.


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