Chico César e Geraldo Azevedo: "Nós entendemos música como a arte do encontro"

Chico César e Geraldo Azevedo: "Nós entendemos música como a arte do encontro"

Chico César e Geraldo Azevedo apresentam "Violivoz" nesta quinta, 21h, no Araújo Vianna

publicidade

No Auditório Araújo Vianna (Osvaldo Aranha, 685), nesta quinta-feira às 21h, a música nacional é destaque com um grande encontro entre Geraldo Azevedo e Chico César, juntos pela primeira vez no palco somente com seus violões. O espetáculo “Violivoz” proporciona um passeio por sucessos autorais, clássicos da dupla e surpresas. Os ingressos estão à venda na Sympla. 

 

Correio do Povo - O que levou vocês dois a se unirem neste show "Violivoz"?

Geraldo Azevedo - A admiração e o afeto que temos um pelo outro. Acho também que a similaridade da nossa arte, nossas origens e referências. 

 

CP - A tradição da MPB no Brasil e principalmente a que vem de fonte nordestina é realmente ter o violão como base de composição. Queria saber como vocês colocam o violão na história do MPB de fonte nordestina?

Chico César – Desde João Pernambuco, Canhoto da Paraíba, que são nordestinos, até Baden Powell e a partir dele, sabemos que o violão ganhou uma importância muito grande na cultura brasileira, influencia diretamente Gilberto Gil, que nos influencia a todos, e ao próprio Geraldo, que me influencia. Sinto que a moderna música brasileira, pelo violão ser um instrumento muito popular, se apoia muito no violão, mais do que o piano, consagrado pelo maestro Tom Jobim. A canção brasileira dos últimos 40, 50 anos, com Gilberto Gil, João Bosco, Djavan, Lenine, Geraldo Azevedo, Caetano Veloso, tudo passa pelo violão. Nós levamos esta força do violão para o palco, com os dois juntos tocando.  

 

CP - Contem-nos um pouco sobre o repertório de cada um que vai integrar este show.

Geraldo Azevedo - O repertório foi se desenvolvendo pelo afeto ao trabalho um do outro. Cada um escolheu o que queria cantar e fomos agrupando as canções naturalmente. O mais difícil foi sintetizar o repertório, muitas canções tiveram que ficar de fora. Fomos buscando as músicas mais representativas das nossas carreiras. Muitas são atemporais e combinam entre si. Originalmente, havíamos pensado em fazer um rodízio no palco, como fazemos em outros projetos coletivos. Mas para o “Violivoz” decidimos que estaríamos juntos no palco do início ao fim, cantando e tocando. 

 

CP - E os demais encontros. Chico tem umas parcerias maravilhosas. Com o Vitor aqui em Porto Alegre foi um bálsamo. Geraldo tem Alceu e Elba no Grande Encontro. Quando teremos novos shows?

Chico César – Nós gostamos da troca, do encontro. Não é à toa que o primeiro disco do Geraldo Azevedo é uma parceria com o Alceu Valença. Eu estou fazendo um disco agora com um parceiro muito querido, que é o Zeca Baleiro. Tenho colaboração com o Vitor Ramil no Sul do Brasil e com o Nilson Chaves no Norte do Brasil. Na pandemia, fiquei fora do Brasil uns seis meses e gerei um disco com Rojo Barceló -  Maria Barceló - cantora e compositora argentina, e Esteban Blanca, pianista e baterista argentina. Nós entendemos música como a arte do encontro. Fazer música sozinho é bom, mas tocar junto é melhor. A música existe para isso, para celebrar a vida e a amizade.  

 

CP - E sobre o público e os amigos gaúchos e o Araújo Vianna, o que vocês podem dizer?
Geraldo Azevedo -
Dentre as cinco regiões do país, o Sul é a que menos faço shows. Estou muito feliz de voltar a capital gaúcha com esse projeto tão esperado. Adoro a cidade e quero voltar mais vezes. Sempre sou muito bem recebido no Auditório Araújo Vianna. Alegria enorme voltar a esse palco maravilhoso com meu parceiro Chico César. 

 

CP - Que aprendizados tiveram a música e o fazer musical de cada um de vocês nesta pandemia?

Chico César – Creio que todos nós que a música, como a vida, tem compassos de espera. Às vezes existem momentos de ouvir o som ao redor, escutar o ambiente. Nós aprendemos que é possível nos comunicarmos com música pela internet, com as lives, os vídeos, as videoaulas. O Geraldo e eu compusemos a música “Nem na Rodoviária” nos comunicando pela internet. Já não podíamos nos falar pessoalmente, nos encontrar fisicamente. A pandemia interrompeu o começo do nosso processo. Estávamos começando a ensaiar e continuamos pela internet. Nós entendemos que a vida é como a água, a música é assim também, vai encontrando os seus lugares, o seu curso, não importa se na bonança ou em períodos tempestuosos como este que estamos vivendo agora.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895