Com o olhar no empreendedorismo do Rio Grande do Sul

Com o olhar no empreendedorismo do Rio Grande do Sul

Por Rafael Rangel Winch

Rafael Rangel Winch

publicidade

Natural de Pelotas, Rodrigo Sousa Costa, 51 anos, é o atual presidente da Federasul desde final de 2022. Engenheiro agrônomo e advogado, ele busca extrair dessas diferentes áreas e das vivências em funções anteriores, inspirações e conhecimentos para qualificar o debate sobre empreendedorismo no Rio Grande do Sul. Antes de assumir a presidência da instituição, Rodrigo já havia comandado o Sindicato Rural de Pedro Osório e a Associação Rural de Pelotas, além de já ter coordenado o Conselho Municipal do Meio Ambiente de Pelotas e a Aliança Pelotas.

Quais são os principais propósitos, área de atuação da Federasul?

A Federasul é uma entidade de lideranças voluntárias de todos os setores atuando em prol do bem comum e da classe produtiva através de sua rede de filiadas, com um propósito que se divide em três eixos bem definidos. Diria que a face mais visível da Federasul é justamente o eixo que objetiva melhorar o ambiente para empreender, produzir, fazer negócios. Um eixo que vai desde atuar politicamente enquanto sociedade civil organizada para reduzir burocracias desnecessárias, para garantir a segurança jurídica, fiscalizar a gestão pública e o processo legislativo visando enxugar o tamanho do Estado para poder diminuir a carga tributária que pesa sobre os ombros de todos nós, até buscarmos maior eficiência e menores perdas na gestão pública. É uma atuação muito pautada no debate pelos meios de comunicação, trazendo a tona por exemplo a aplicação correta de concessões e privatizações como ferramentas de desenvolvimento sócio econômico ou até mesmo evitando o mal uso destas ferramentas quando percebemos que num determinado caso concreto, como por exemplo na ERS 118, não se justificam, podendo vir em prejuízo da sociedade e de diversos setores econômicos. O segundo eixo seria nossa evolução enquanto empreendedores em um mundo em constante transformação e envolve uma intensa troca de experiências entre empresários da Indústria, Comércio, Serviços, Agronegócio, Turismo, Tecnologias. Nesta interação, identificamos oportunidades de novos negócios, de melhorar processos internos, de nos tornarmos melhores e mais competitivos num mundo globalizado, sendo uma face bem exposta da Federasul nos inúmeros eventos que promovemos, como o Tá na Mesa e o Encontro de Embaixadores, com grandes palestrantes. O terceiro eixo surge de uma reflexão filosófica enquanto cidadãos: por mais importante que seja a prosperidade de milhares de indivíduos numa sociedade para promover a geração de riquezas e oportunidades de onde pode sair uma arrecadação crescente, precisamos reduzir as desigualdades sociais garantindo oportunidades igualitárias, com serviços públicos de qualidade, para que não estejamos sempre com um mundo desmoronando a nossa volta, com governos exigindo mais tributos e entregando serviços públicos cada vez piores, com uma população que vota premida por necessidades urgentes. Neste sentido, nossa atuação na Federasul torna-se bastante diferenciada pela necessidade de aparar arestas e divergências entre os diferentes segmentos econômicos, numa visão do todo, na busca pelo bem comum, para que possamos influenciar políticas públicas na condição de Sociedade Civil Organizada, a partir de valores morais comuns à classe produtiva.

As suas áreas de formação (engenheiro agrônomo e advogado) se relacionam de algum modo no trabalho que o senhor faz hoje?

Sim, os conhecimentos ecléticos da Engenharia Agronômica, da advocacia e da Gestão Empresarial se relacionam tanto em minha atividade produtiva no agronegócio, como também na interação com os diferentes setores com que atuamos. Tanto a gestão empresarial quanto a advocacia perpassam todos os segmentos econômicos, diferentes ramos de atividades, enquanto a engenharia agronômica, num estado com suas bases sócio econômicas no agronegócio, facilita a compreensão de problemas e oportunidades. A Federasul tem esta característica de proporcionar uma troca de experiências muito rica, de ter presidentes que se sucedem de diferentes ramos de atividade, fazendo com que a entidade se enriqueça com esta diversidade de pequenos e grandes empresários de todos os setores, de talentos mais jovens interagindo com mais experientes e agora com mais de 30% de lideranças femininas com novas abordagens das situações.

Como o senhor avalia o setor empresarial gaúcho como força política  hoje?

Avalio com grande admiração tanto pela resiliência de terem passado pela maior recessão da história do País seguida de uma pandemia quanto pela disposição de antigas e novas lideranças de assumirem o protagonismo das mudanças e reformas necessárias. Particularmente acredito no associativismo, nesta disposição de lideranças voluntárias que vivem dos próprios negócios mas compartilham boa parte de seu tempo para as causas de interesse coletivo, para o bem comum, formando um bloco sólido unido pelos mesmos valores que é o que me encanta na Federasul, esta coerência cada vez maior de condutas e discursos. A classe produtiva gaúcha, onde incluo profissionais, empreendedores e trabalhadores, têm um histórico de atuação humana, filantrópica e colaborativa que ficou muito visível durante a pandemia com mãos estendidas para as pessoas que ficaram para trás alcançando comida até que chegasse ajuda governamental, que foi vista nos recursos entregues a saúde ou na obstinação dos serviços classificados como essenciais em manter as cidades abastecidas. Acho triste quando tentam enfraquecer a força política da classe produtiva a partir da divisão, de generalizações de más condutas isoladas, porque os bons empresários e os bons funcionários são a maioria e deveríamos garantir que tivessem facilidade de encontrar uns aos outros. Creio que num Brasil polarizado, tivemos tantos maus exemplos de lideranças nacionais de ambos os lados, que terminaram por contaminar o discurso de boas lideranças locais, com muitos assumindo uma postura beligerante, agressiva em relação a qualquer divergência e bastante desconectada da prática humana e acolhedora com que estas mesmas pessoas atuam em suas comunidades. Percebo um terreno fértil na sociedade civil organizada para cultivar uma nova postura, resgatando os bons exemplos de firmeza com ponderação, de disposição para o bom combate no campo das ideias, com sensatez, equilíbrio, primando pela compostura, pela comunicação respeitosa.

De que maneira o senhor visualiza o tema da Reforma Tributária?

Vejo com muita preocupação a partir dos sinais emitidos pelo novo governo no sentido de desqualificar o controle das despesas e o equilíbrio fiscal, criando insegurança e expectativas ruins que já são percebidas no arrefecimento da economia no último quadrimestre, criando um problema cuja solução tradicional tem sido o aumento de impostos. Fica um sentimento de que a proposta da reforma tributária, que seria bem vinda para simplificar a cara burocracia de aferir os tributos, poderá vir com objetivo de tapar um rombo nas contas públicas, com aumento líquido da carga tributária que pesa sobre os ombros de toda sociedade. A Federasul fará o possível através de sua rede de filiadas e interagindo com nossas coirmãs, para influenciar positivamente as decisões dos parlamentares.

Espera-se que o PIB gaúcho aumente neste 2023. Quais  fatores  serão vitais para esse aumento?

No Rio Grande do Sul onde temos forte dependência dos resultados das safras do agronegócio, mesmo com os efeitos da estiagem atual, esperamos um razoável crescimento do agro especialmente em relação ao ano anterior tão afetado pela seca. Na avaliação de nossa divisão de economia este crescimento do agro em relação ao ano anterior vai contribuir com um avanço nos serviços e também no comércio que podem puxar a economia gaúcha acima da média brasileira mesmo com o setor industrial movendo-se de lado, mais afetado pelas políticas federais que tem impactado negativamente o nível de confiança de todos os setores produtivos.

O senhor também é um homem do campo. Sobre o segmento do agronegócio como o senhor enxerga a expansão desse setor em 2023?

Após três secas seguidas houve descapitalização e endividamento de muitos produtores rurais. Esta safra de 2022/23 teve uma composição de custos de insumos, especialmente fertilizantes e defensivos, exageradamente alta como reflexo de rearranjos pela guerra na Ucrânia, que somada a perdas de produtividade por problemas climáticos, pode gerar um fluxo de caixa livre ruim ou até negativo em diferentes lavouras. Mesmo com resultado ruim o dinheiro retorna para movimentar a economia num momento em que os preços de muitos insumos começam a cair para patamares anteriores, criando uma expectativa mais otimista na composição dos custos da próxima safra 23/24. O agro gaúcho está apostando pesado nas soluções da agricultura de precisão e deve continuar investindo na otimização de recursos naturais e econômicos pelo uso de tecnologia, num bom alicerce para o futuro.

De que forma a chamada insegurança jurídica prejudica investimentos, abertura de novos empreendimentos?

A decisão de investir nasce da confiança que temos no futuro, da previsibilidade que nos permite enxergar se conseguiremos ou não recuperar os investimentos que pretendemos fazer. Não faz sentido descapitalizar uma empresa ou uma família, investindo recursos próprios ou assumindo endividamento quando as regras do jogo podem ser mudadas a qualquer momento por um dos jogadores para garantir sua vitória. O respeito aos contratos públicos e privados está na essência do bom funcionamento de qualquer economia, de qualquer sociedade e por isso precisamos de Instituições sólidas, confiáveis. Quando a mudança de interpretação do STF pode alterar até o passado, a coisa julgada, e passamos a punir pessoas que empreenderam agindo de boa fé, confiando nas regras, no Estado e nas Instituições, deixamos claro que entramos em tempos sombrios que privilegiam o caos no lugar da segurança, gerando uma sensação de ausência de Estado. Enquanto sociedade, quando rompemos a segurança jurídica, estamos abrindo mão de bons investimentos, abrindo mão de empreendedores para lugares mais confiáveis que almejem uma prosperidade coletiva. A insegurança jurídica é uma sinalização muito ruim, com efeitos terríveis para os mais vulneráveis a médio prazo.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895