Cone McCaslin: "O Sum 41 está em um lugar realmente bom, apesar de tudo"

Cone McCaslin: "O Sum 41 está em um lugar realmente bom, apesar de tudo"

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Cone McCaslin (baixo), Tom Thacker (guitarra) e Frank Zummo (bateria). Sum 41 vem a Porto Alegre com Frank Zummo (bateria) Dave Baksh (guitarra), Cone McCaslin (baixo), Tom Thacker (guitarra) e Deryck Whibley (vocais) | Foto: Divulgação / CP


Eles eram apenas jovens recém-saídos do ensino médio que queriam fazer música e acabaram por se consagrar no cenário do rock no Canadá. Na pequena cidade de Ajax, na província de Ontário, o vocalista Deryck Whibley, o guitarrista Dave Baksh e o baterista Steve Jocz costumavam tocar em bandas rivais, mas em 1996, unidos pela paixão pelo rock, resolveram se juntar e formar o próprio grupo. A reunião aconteceu no 41° dia do verão canadense e então surgia o Sum 41. Três anos mais tarde, Jason McCaslin, conhecido pelo apelido "Cone",  porque quase sempre comia casquinhas de sorvete depois do almoço, entraria para a formação. De lá para cá, os canadenses mudaram sua formação inúmeras vezes e, além de ganhar muitos fãs ao redor do mundo e seis discos de platina no seu país de origem, recentemente protagonizaram um drama que quase custou a vida de Deryck, o único remanescente do trio original. Em abril de 2014, seu fígado e seu rim entraram em falência por causa do consumo excessivo de álcool, o que fez com que ele fosse imediatamente hospitalizado. Lá, médicos o induziram ao coma, deixando-o internado por um mês.

Depois de deixar UTI, ele começou a produzir músicas que versam sobre sua recuperação e seus erros do passado. As faixas fazem parte de "13 Voices", o sexto álbum de estúdio do quinteto, lançado em 7 de outubro de 2016. E, nesta quarta-feira, o público de Porto Alegre pode conferir as músicas do disco ao vivo, porque o Sum 41 faz sua estreia no Brasil com um show no bar Opinião (José do Patrocínio, 834), às 21h. Ainda há ingressos no terceiro lote por R$280,00; as entradas podem ser adquiridas pelo site.  Em entrevista ao Correio do Povo, o baixista Cone comentou sobre o novo trabalho, a trajetória de sucesso da banda - a qual chama de família -, as dificuldades enfrentadas ao longos dos anos e a expectativa para a apresentação na Capital. 

Correio do Povo: Qual a importância de “13 Voices” para vocês, tendo em vista toda a conjuntura por trás do seu desenvolvimento?
Cone:
Pessoalmente, eu acredito que “13 Voices” é muito importante porque nós nunca soubemos se faríamos um novo álbum. Não apenas por causa dos problemas de Deryck com álcool há alguns anos, mas também pela moral e exaustão da banda inteira quando nós terminamos nossa turnê de 2013. Foi um período de muitas incertezas quando acabamos o último ciclo da tour. Tanto fisicamente quanto emocionalmente. Nosso grupo nunca tinha passado por algo tão extremo na carreira e ter um álbum que sentimos que é muito forte é, com toda certeza, uma realização muito grande para nós.


CP: Vocês são uma banda de renome no cenário internacional; nos Estados Unidos, têm um disco de platina e dois de ouro, além das inúmeras distinções no Canadá e popularidade mundo afora. Apesar disso, o Sum 41 fez uso de uma campanha via Pledge Music para produzir o novo CD. Como surgiu essa alternativa e por que deram sequência por esse caminho?
Cone: Nós sempre tivemos uma ótima relação com nossos fãs e gostamos de os manter sempre próximos de nós. Sempre fizemos muitas atualizações de vídeo e gravações durante nossa carreira, e isso foi apenas mais uma grande avenida a percorrer para deixar nossos fãs por dentro do mundo do Sum 41. Mesmo antes de haver redes sociais reais, nós costumávamos fazer nossas fitas VHS com imagens das turnês e de nós nos divertindo em nossa cidade natal e então nos shows. Com plataformas como o YouTube e o Pledge Music, nos é permitido fazer tudo isso de maneira mais fácil agora. Conhecemos nossos fãs muito bem e nós sabíamos que eles apoiariam totalmente a ideia de fazer parte da produção do álbum por meio do Pledge Music, o que funcionou muito bem.


CP: E como foi esse processo de produção? Que desafios vocês encontraram durante o percurso?
Cone: Gravar “13 Voices” foi um pouco diferente do restante dos nossos álbuns na maneira de não apenas entrar no estúdio com um álbum cheio de músicas e gravá-las todas de uma vez, como fizemos com todos os outros álbuns. Com este álbum, Deryck tinha três ou quatro canções prontas para gravar de uma vez, então nós trabalharíamos com isso em grupos e sobre período de um ano mais ou menos. Nós também não precisamos realmente usar estúdios “reais” para gravar. Baterias foram gravadas em um estúdio, mas tudo foi gravado principalmente em um estúdio na casa do Deryck. Eu também gravei um monte de meu baixo na minha casa. A liberdade de não ter nenhum cronograma para uma liberação também foi ótimo porque não houve pressão desse lado das coisas. Há sempre pressão para fazer as melhores músicas que você pode, mas é bom para aliviar o stress de um calendário. Não havia horário.


CP: A música “War” traz em sua abertura “Então pelo que estou lutando? / Por tudo aquilo e mais / Não deixarei isso passar / Estou pronto para acertar as contas. É uma letra muito forte. Por que razão essa canção escolhida para ser o single do CD?
Cone: Eu sei que é obviamente uma canção muito pessoal para o Deryck, com um significado muito grande, de fazer as pazes com seus erros do passado. Quando singles são escolhidos, há muitos fatores relacionados. "War" foi nossa opção porque todos envolvidos com a banda sentiram que a faixa certa para ir em frente. Tem uma mensagem muito forte e um sentimento de emoção muito forte com o qual eu tenho certeza que as pessoas podem relacionar com momentos da própria vida.


CP: Como os fãs receberam “13 Voices”?
Cone: Até o momento, nossos fãs estão amando “13 Voices” pelo que posso falar e tenho acompanhado. Nós não temos nada além de uma grande recepção com o novo material. Muitas vezes quando você tem um novo álbum você tem que lentamente colocar novas músicas em suas apresentações, porque muita gente só quer ouvir as coisas antigas com as quais eles cresceram ouvindo, mas parece que com este álbum, um monte de nossos fãs realmente querem ouvir as novas músicas ao vivo. Tem sido muito bom.


CP: E como eles reagiram à internação e recuperação de Deryck?
Cone: Nossos fãs foram ótimos com Deryck. O apoio foi excelente e todas as mensagens positivas que eles estavam enviando foram ótimas. Acho que realmente o ajudou. Todos nós apreciamos.


CP: Com uma carreira de duas décadas e muitos prêmios, como tu descreves o momento atual do grupo?
Cone: Bem, quando começamos nós éramos adolescentes recém-saídos do ensino médio, conseguindo o primeiro contrato, viajando pelo mundo, festejando duro, causando problemas... Fazendo coisas que muitos outros adolescentes fariam em nosso lugar. Eu realmente não posso comparar esse tempo para agora porque estamos todos em diferentes pontos em nossas vidas agora. Há muitas mudanças quando você envelhece. Eu ainda vivia na casa dos meus pais durante o “All Killer No Filler Tour”. Nós fizemos essa grande turnê em 2001 e, quando eu voltasse para o Canadá, dormiria na casa de meus pais e teria que lidar com suas regras. Foi realmente estranho e engraçado ao mesmo tempo... Agora nós somos homens crescidos com nossas próprias famílias então é totalmente diferente. Estar em uma banda com outras pessoas por tanto tempo torna-se uma atmosfera familiar. E famílias às vezes discutem e às vezes se dão bem. É o mesmo que estar em uma banda com amigos por tanto tempo. Todas essas coisas acontecem. Agora eu posso dizer que nossa banda está em um lugar realmente bom, apesar de tudo. Esta família é feliz.


CP: O estilo musical de vocês tem sido rotulado de tudo, desde pop punk, rock até metal alternativo. Independente de classificações, o estilo eclético e a dedicação nas apresentações garantiram a vocês milhões de fãs e vendas de discos. Que relação se pode fazer entre o estágio atual do rock e a música ao vivo?
Cone: Acho que o rock ainda está se desenvolvendo no que diz respeito à música ao vivo porque as pessoas ainda querem ver bandas de rock tocando. Realmente tocar ao vivo, de verdade. Hoje em dia, você vê um monte de artistas eletrônicos que parecem que estão apertando vários botões atrás de uma mesa, mas não estão fazendo nada "ao vivo", encabeçando grandes festivais de 40 mil pessoas em muitos lugares. Não estou dizendo que todos os artistas eletrônicos são assim, mas muitos são. Acho que é lamentável que a música tenha chegado a esse ponto. Nada disso é realmente feito na hora. O cara de iluminação deveria receber todo o dinheiro porque ele é o único fazendo o trabalho e algo realmente legal.

As bandas de rock realmente ganham seu sustento se apresentando ao vivo. Eu acho que existem algumas bandas de rock realmente ótimos no mundo que simplesmente não estão recebendo atenção porque rock não é muito valorizado em determinados países. Música pop e música eletrônica parecem ter o foco agora em uma tonelada de lugares. Eu vejo bandas de rock o tempo todo e eu acho penso "se esse grupo tivesse surgido nos anos 90, quando o rock era gigante, ele seria enorme". É apenas o estado da música agora. O rock nunca vai desaparecer e eu sei que as pessoas sempre vão querer ir a um grande show de rock ao vivo, porque é lá que se expõem as verdadeiras emoções e sentimentos.

CP: Nos palcos, há alguma diferença marcante entre o Sum 41 antes da pausa e o de agora, o de “13 Voices”? Deryck mudou alguma coisa?
Cone: Não há uma grande diferença. Nós sempre preparamos muito bem para nossos shows, porque amamos o que fazemos e respeitamos nossos fãs. Sobre o Deryck, ele não bebe mais e tem um histórico de problemas nas costas, então sua preparação é muito diferente. Como um todo, a nossa banda leva os nossos shows muito a sério e todos nós tomamos bastante de tempo para nos prepararmos para cada apresentação e nos certificarmos de que estamos prontos para ir. É realmente divertido tocar agora.

CP: E o que vocês esperam para a primeira passagem pelo Brasil?
Cone: Loucura absoluta!

CP: Vocês têm algum contato com a música ou com os fãs brasileiros?
Cone: Sim, muitos dos nossos fãs brasileiros são alguns dos mais ativos nas mídias sociais. Recebemos toneladas de mensagens deles o tempo todo. É muito legal. Nós estamos realmente animados para tocar no o Brasil e finalmente ver todos aqueles com quem temos conversado online.

 

Eric Raupp e Júlia Endress

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