Cristiano Nabuco: "Usuário do Pokemon Go continua vivendo a realidade através do celular"

Cristiano Nabuco: "Usuário do Pokemon Go continua vivendo a realidade através do celular"

publicidade

Para Nabuco, todos devem equilibrar a brincadeira com as demais atividades diárias. Foto: Reprodução / Facebook / CP Para Nabuco, todos devem equilibrar a brincadeira com as demais atividades diárias. Foto: Reprodução / Facebook / CP


Com o sucesso recente do jogo Pokemón Go, o Blog Diálogos do Correio do Povo ouviu o psicólogo Cristiano Nabuco sobre os perigos e os cuidados que as pessoas e os pais devem ter para a diversão não virar um problema de saúde. Com doutorado pela Universidade do Minho (Portugal) e Pós-Doutorado pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Nabuco coordena o Núcleo de Dependências Tecnológicas do Pro-Amiti do Instituto Psiquiatria-HC/Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Para o psicólogo, o principal ponto que todos devem atentar é o equilíbrio entre a brincadeira e as demais atividades diárias.

Correio do Povo: Quais as suas preocupações com a moda do Pokémon Go?

Cristiano Nabuco: A minha preocupação é que a gente tem um jogo muito diferente daqueles que já existiram. Hoje existe a realidade, que ela projeta no meio ambiente. Excetuando todas as questões de riscos de ser assaltado, de queda e tudo mais, o que eu tenho visto é que o jogo é muito criticado porque não é um jogo, diferente de outras plataformas, que desenvolvem algumas habilidades. Dizem, inclusive, que é um jogo monótono. Só tem que ir atrás e ficar… O ponto é que a medida que um jovem ou criança começa a ficar muito conectado a esse tipo de recurso, embora esteja saindo no meio ambiente e se relacionando, continua vivendo a realidade através do telefone celular. Por mais que existam certos temas que podem evocar conversas tipo: "Tinha um Pikachu aqui", "não tinha", o mote segue sendo o jogo. Isso abre porte para aquilo que a gente chama de dependências comportamentais, que é o vício por ter aquele reforçamento que está ligado a liberação de dopamina.

CP: Como fazer para evitar esses problemas?

Cristiano Nabuco: Não há problema nenhum de você utilizar e as crianças joguem, desde que ocorra um controle mínimo. O grande ponto é qual o tempo ideal de exposição para uma criança neste jogo. Se você consegue cumprir uma função recreativa. Ponto. Acabou e você recolhe, ok? O problema é que o jovem não tem esse controle. Ele não tem as funções cerebrais plenamente desenvolvidas e fica meio refém. A tendência é que ele se exponha mais do que seria adequado.

CP: Quais são os cuidados para fazer um bom uso do jogo?

Cristiano Nabuco: Se você quiser expor e deixar ele brincar, não tem problema nenhum, pode fazer isso. Desde que você tenha um controle mínimo a respeito do tempo. Simplesmente, deixar lá para que a pessoa uso o tempo todo, não é muito legal. Esse é o ponto. Que o jogo tenha uma utilização por um determinado momento. Quando acabar, você recolhe e tira. Não dá para você deixar um aparelho de celular na mão simplesmente com o objetivo de entretê-lo.

CP: Saiu alguma pesquisa em relação ao uso do jogo?

Cristiano Nabuco: Não, nenhuma pesquisa. É muito recente, mas, uma coisa que despertou a nossa a atenção é que o único local que ele não foi lançado foi no Japão, que é a meca dos jogos eletrônicos. Então, suspeita -se, que ele esteja sendo utilizado para ser aprimorado até que ele tenha um determinado padrão.

CP: A realidade aumentada pode causar algum problema nos usuários? Tipo ver imagens nas ruas ou outros problemas?

Cristiano Nabuco: Acho que não. Se alguém tiver alguma patologia, uma esquizofrenia. A gente não sabe, né? Precisamos esperar. A gente não sabe o limite e até onde as coisas vão.

CP: Qual a diferença do viciado no jogo e daqueles viciados em internet, whatapp, facebook e redes sociais?

Cristiano Nabuco: Nenhuma. São exatamente iguais. É o que vamos chamar de dependências comportamentais. São pessoas que acabam ficando tão conectadas que precisam de maiores quantidade de conexões para ter a mesma intensidade de prazer e satisfação. Então, chega um momento que elas começam a ficar dependentes, não só do jogo, mas também da liberação da dopamina e outros aspectos que sobrepõem.

CP: Quando as pessoas precisam ligar um sinal de alerta?

Cristiano Nabuco: É quando o jogo começa a apresentar uma sobreposição sobre as atividades do cotidiano. Ou seja, quando o indivíduo não consegue mais regular o uso. E o uso começa a ultrapassar o que chamaríamos de sensato. Ele passa a sacrificar atividades, que são atividades esperadas pelo cotidiano para jogar.

por Correio do Povo

Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895