Expandir a assistência

Expandir a assistência

Por Paula Maia

Paula Maia

Galeria de fotos do Dr. Julio Matos, diretor-geral da Santa Casa.

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Com uma trajetória de 46 anos na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Julio Flávio Dornelles de Matos não apenas integra a direção executiva desde 2005, mas também assume o papel de diretor-geral desde 2015. Sua liderança é impulsionada pelo propósito institucional de expandir a assistência social. A Santa Casa destaca-se como peça fundamental na maior prestadora de serviços do SUS no Rio Grande do Sul e uma das cinco maiores do Brasil. Além dos oito hospitais em Porto Alegre, a instituição também administra o hospital Dom João Becker, em Gravataí, desde 2018.

Quais os investimentos desde 2015?


Um aspecto importante nesse período é o nível de investimento que nós fizemos. Destaco o apoio da bancada federal com uma emenda de R$ 150 milhões em 2016. Esse valor está nos permitindo reformar todas as áreas SUS da Santa Casa. Ainda estamos aplicando e já temos obras concluídas em toda a nossa maternidade, incluindo internação obstétrica, emergência obstétrica, unidade de neonatologia, centro obstétrico, duas unidades de internações já prontas e inauguradas em funcionamento com esse recurso. Além disso, já entregamos 30 leitos de UTIs reformados do Hospital Santo Antônio e todo sistema de passarelas que interligam todos os hospitais da Santa Casa. E a UTI do Hospital Santa Clara com esse recurso, tudo isso é SUS. Um outro aspecto importante também diz respeito à área de investimentos de natureza privada. Nós procuramos adequar ambientes físicos praticamente toda a Santa Casa para a área de convênios e particulares também, junto aos hospitais São José, Pereira Filho, São Francisco, Hospital da Criança Santo Antônio e no próprio Hospital Santa Rita também. E iniciamos em 2019 um grande desafio que é a construção de uma nova unidade hospitalar, o Nora Teixeira.

Como foi o projeto do Hospital Nora Teixeira?


Inicialmente com uma previsão de R$ 202 milhões, iniciado em março de 2019, mas que foi concluído, nós não sabíamos que tinha uma pandemia no meio, que tudo ficou mais caro, o aço, o ferro, o vidro, o cimento, a inflação de uma pandemia no meio que também impôs elevações de custos, esse hospital acabou no final no total de R$ 284 milhões, esse foi o investimento total. Desses R$ 284 milhões, R$ 230 foram doados com uma alavancagem inicial determinante da família do Alexandre Grendene e a Nora Teixeira, que foram 80 milhões doados para a gente iniciar o projeto e eles próprios nos ajudaram a agregar outras famílias e empresas, o próprio governo do estado, no que diz respeito à área de emergência SUS. Cuja entrega se efetivou agora no dia 19 de outubro. Esse é um hospital que tinha dois propósitos, o primeiro era resolver a questão da emergência SUS que tínhamos, era um ambiente muito pequeno de 600 metros quadrados, pequena para o tamanho da Santa Casa porque 70% dos pacientes que ali estavam já eram nossos para a vida toda, são pacientes transplantados, e nós fizemos aqui mais 600 transplantes por ano. Então, de 600 metros quadrados, hoje é uma emergência de 2.750 metros quadrados, toda ela com box individuais, cada paciente que ali interna é um paciente único, com assistência personalizada, com acompanhante, com poltronas reclináveis de medicação, com centro diagnóstico de imagem aérea dedicada, com ressonância, tomografia, ecografia, salas de espera super confortáveis. Um orgulho para nós essa nova emergência, talvez seja um dos grandes feitos nesse período. A nova emergência do sistema único de saúde é uma dignidade assistencial e um processo de acolhimento que muito representa o jeito Santa Casa de ser. Um jeito de acolher, cuidar e conviver.

Como foi a campanha de arrecadação para o hospital Roque Gonzales, de Roca Sales?


O hospital de Roca Sales foi simplesmente varrido pela água do rio. Nós buscamos aqui internamente tudo aquilo que a Santa Casa poderia dispor, de tecnologias, de leitos hospitalares, de insumos das mais variadas formas, materiais, luvas, máscaras, enfim, tudo o que nós pudéssemos dispor. Tudo o que fosse necessário, respiradores, monitores, e desta forma nós conseguimos três caminhões de insumos e levamos para Roca Sales. Foi um pessoal nosso da engenharia clínica, ajudou a instalar estes equipamentos e muito rapidamente a gente conseguiu colocar à disposição uma unidade de emergência. Uma unidade de pronto atendimento já em condições. Para a nossa alegria, a questão de uma semana atrás, o hospital foi reinaugurado com todas as condições assistenciais plenas de um processo assistencial, tanto na área de urgência e emergência, como também a parte hospitalar. Ajudar o hospital de Roca Sales tem muito a ver com a razão da Santa Casa. Essa instituição foi constituída ao longo dos 220 anos com a ajuda de muitos. Todos os profissionais da Santa Casa se envolveram para poder entregar o máximo que a gente podia para Roca Sales.

E o termo de cooperação com o município de Porto Alegre?


Nesse termo nós assumimos a administração de 30 unidades básicas de saúde. São todas da zona Norte e temos como referência o cuidado de 480 mil pessoas da cidade de Porto Alegre, isso para nós é um orgulho enorme. Lá tem médicos nossos, técnicos, odontólogos, área de enfermagem. O município nos entregou a unidade e a gente assumiu por inteiro todo o processo assistencial. Começamos em julho de 2020 e reconstruímos o contrato agora em 2022. Em 2019, o gestor desse processo era o município, atendeu 420 mil pessoas. Atualmente atendemos cerca de 600 mil pessoas.

Quais os investimentos mais recentes na Santa Casa?


De 2015 para cá foram mais de 600 milhões de investimentos que fizemos. Muitos investimentos na Santa Casa como um todo. Investimentos em tecnologias, em robôs, área de ressonâncias, tomografias, aceleradores lineares, uma diversidade de tecnologias que nós incorporamos. Eu digo que dos 220 anos da Santa Casa, completados agora no dia 19 de outubro, observando todos os ciclos de desenvolvimento da instituição este é, sem dúvida alguma, o ciclo em que mais ela investiu na sua estrutura, nas suas tecnologias para que pudesse ampliar a qualidade e a segurança na execução do processo assistencial.


Projetos futuros?


Na realidade são dois projetos. A reforma e modernização do Hospital Dom Vicente Scherer, que é o nosso hospital de transplantes. Esse hospital é muito importante porque ele é uma referência nacional. Ali nós realizamos todos os tipos de transplantes de órgãos, coração, fígado, rins, pâncreas, pulmão, córnea, medula, o que imaginar de transplantes nós fizemos ali. Então é o único centro de transplantes da América Latina onde se realiza todos os tipos de transplantes de órgãos.
Nós estamos reformando e modernizando ele, com um investimento de R$ 60 milhões, dos quais R$ 36 milhões a Nora e o Alexandre doaram para alavancar o início de todo esse projeto de modernização.
Estamos trabalhando também no projeto de ampliação da emergência pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio. Nós temos uma emergência pediátrica que está pequena para o tamanho da necessidade da população infantil, especialmente uma emergência voltada às áreas de complexidade na pediatria. Complexidades de naturezas cardíacas, de natureza. Neuro cirúrgicas, oncológicas, de transplantes, de situações gastrointestinais e uma pediatria geral também. Mas o foco é na área de complexidade. Essa é uma emergência referenciada para o SUS, ela atende pacientes que vêm da rede de assistência do município através do SAMU, e para convênios de particulares é uma emergência de portas abertas, de pronto atendimento. Esse é o investimento que nós ainda estamos estruturando e vai girar na hora de R$ 60, 70 milhões de reais. E deve iniciar a partir de março do ano que vem.


Futuro da saúde?


Bom, na realidade nós temos que olhar a saúde em diversos aspectos. O primeiro deles é o Sistema Único de Saúde. No sistema público de saúde aqui no Rio Grande Sul, dos nossos praticamente 11 milhões de gaúchos, 7 milhões e meio só tem o SUS como seu sistema de saúde. E ele é um sistema subfinanciado, especialmente pela União. E nós precisamos trabalhar muito para que essa população de 7 milhões e meio de gaúchos se amplie os processos de acesso deles ao sistema único de saúde. E hoje existe um represamento de acessos para as questões importantes dessa população. Especialmente no que diz respeito à assistência de média complexidade. Que são situações simples, como hérnia, vesícula, urologia, próstata, oftalmologia, enfim, tem uma série de demandas que são de natureza simples e que existem um represamento pela baixa base de remuneração do Sistema Único de Saúde para os prestadores. Aqui no Rio Grande Sul mais de 70% da assistência SUS é feita pela rede de Santas Casas e Hospitais Filantrópicos. São 240 hospitais que garantem 70% deste processo assistencial e que estão desfinanciados pelo sistema único de saúde. Essa rede de hospitais aqui no estado tem um prejuízo anual na ordem de 800 milhões de reais. Só a Santa Casa é de 150 milhões, a soma dos 240 dá em torno de 800 milhões de prejuízos nesses hospitais. Quem minimamente busca manter esses hospitais em funcionamento são os municípios. É necessário se pensar em uma adequação de financiamento para melhorar o acesso da população usuária. É um trabalho de contexto político, junto com o governo federal, mas com participação ampla dos prefeitos e do Estado. Financiar e cofinanciar o SUS é fundamental para que se garanta o acesso. É preciso trabalhar as questões dos centros de referências. Organizar o sistema de saúde dentro de uma forma regionalizada. Caracterizando o potencial da sua região.


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