Frejat: “Senti necessidade de ter um show mais autoral”

Frejat: “Senti necessidade de ter um show mais autoral”

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“Acredito que vai chegar um momento em que tudo vai ficar tão ruim que a renovação com qualidade terá sua chance”, diz Frejat. Foto: Christian Gau / Divulgação / CP

O guitarrista, cantor e compositor Frejat, que há três décadas e meia fundou o Barão Vermelho junto com Cazuza e amigos, preparou um show diferente do que está acostumado a levar para os seus fãs. No lugar da guitarra e da visceralidade do rock’n’roll e da banda que o acompanha há anos, o músico sobe ao palco apenas com voz e violão. O artista apresenta sua turnê nacional neste mês e as apresentações chegam ao Rio Grande do Sul neste fim de semana, passando por Novo Hamburgo no sábado, às 21h, no Teatro Feevale (ERS-239); e Porto Alegre no domingo, às 20h, no Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80). Os ingressos custam a partir de R$ 60.


No repertório, o músico faz um passeio pelos sucessos de sua trajetória artística e também por canções de artistas que ele sempre gostou de ouvir. Entre as músicas estão parcerias com Mauro Santa Cecilia, Mauricio Barros e Cazuza: “Segredos”, “Amor Pra Recomeçar”, “Homem Não Chora”, “Todo Amor” e “Por Você”, além de canções de nomes como Chico Buarque e Francis Hime com “Trocando em Miúdos” e Raul Seixas e Marcelo Nova com “Carpinteiro do Universo”. Nesta entrevista ao Diálogos, Frejat fala do formato do show, da escolha do repertório, da saudade de Cazuza, do público gaúcho e do fato do rock estar um pouco em segundo plano para que gêneros mais pasteurizados prevaleçam.


Correio do Povo: Por que a opção pela turnê em formato voz e violão?
Frejat: Eu imaginei este show como um contraponto, um equilíbrio do show "A tal da felicidade" que tem um perfil mais festeiro e dançante, onde toco meus sucessos e de outros artistas, e uma ou outra música nova. Esse conceito teve sequência com as turnês "O amor é quente" e "Frejat ao vivo", pois senti necessidade de ter um show mais autoral, e que por conta do clima mais intimista, me desse outras possibilidades de repertório. Eles acontecem paralelamente, o show com a banda e o de voz e violão. Um não inviabiliza o outro, pelo contrário, eles são complementares. Esse show de voz e violão acabou tendo início depois que recebi o convite do meu querido André Midani para a série Inusitado e a partir dali, foi apenas uma questão de aperfeiçoamentos para chegar ao momento atual.


CP: O repertório é vasto e envolve parceiros como o Mauricio Barros, Cazuza e Mauro Santa Cecília, e compositores como Chico e Francis. Explique-nos a seleção do repertório?
Frejat: São canções que imaginei interessantes nesse formato de violão e voz. O formato sonoro ditou o repertório.


CP: Olhando para trás, como você analisa a construção da sua carreira e a evolução do rock brasileiro?
Frejat: Acho que tenho uma trajetória bonita, rica de emoções e experiências. Ver o documentário sobre o Barão, "Porque a gente é assim", da Mini Kerti, reafirmou isso mais do que nunca.


CP: O show em Porto Alegre será na véspera do Dia dos Namorados. Coincidências à parte, pode ser que o repertório aqui seja um pouco mais amoroso? Quem sabe no bis?
Frejat: O repertório tem muitas canções de amor e já está definido, mas sempre pode aparecer uma ideia nova.


CP: Estes dias assistindo a um documentário lembrei daquela história que João Araújo não queria gravar o filho, o Cazuza, e o Guto Graça Melo insistiu dizendo que a história iria cobrá-lo por isto. Qual a saudade que te dá do Cazuza?
Frejat: A saudade é grande do parceiro, do amigo, mas não penso nesse tipo de coisa quando lembro dele.


CP: E os gaúchos, o que podes dizer do público e dos músicos com os quais trocas ideias e convives?
Frejat: Adoro tocar no Rio Grande do Sul, é um público que sempre gostou do que faço e tenho vários amigos músicos gaúchos que admiro, são muitos mesmo. Gosto da cena, das bandas, de verdade.


CP: Sobre o mercado da música, tens algo a falar? Achas justo que as rádios e as TVs tenham se dedicado mais a sons populares como sertanejo universitário, funk, axé, do que o rock´n roll? A palavra está contigo.
Frejat: Acho que a música brasileira mais consistente e relevante não está nos veículos de mídia de maior público nesse momento, é uma pena, mas isso não impede que ela seja construída por outros caminhos. Acredito que vai chegar um momento em que tudo vai ficar tão ruim que a renovação com qualidade terá sua chance, foi o que aconteceu com a minha geração.


 

Por Luiz Gonzaga Lopes


 


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